Folha de S.Paulo

Diminuíram o tamanho do gol

- JUCA KFOURI

O CLÁSSICO entre Santos e Palmeiras povoa a imaginação e a memória de quem os viu duelar nos anos 1950/60.

Era garantia de espetáculo e de gols. Muitos gols.

Basta dizer, num corte arbitrário apenas para provar a lembrança, que entre maio de 1957 e novembro de 1959, houve 11 jogos entre ambos, com nada menos de 60 gols.

Sim, média de quase seis gols por jogo!

E não é que não tenha havido jogos com placares magros, como um 1 a 0 e três 2 a 1. Mas teve 3 a 0, 4 a 3, 4 a 1, 7 a 3, sempre para o Santos e, até, pelo Rio-São Paulo de 1958, 7 a 6, no Pacaembu, com mais de 43 mil torcedores, entre eles um menino corintiano que acabara de completar 8 anos, presentead­o pelo padrinho são-paulino com a ida ao estádio.

Ver Santos x Palmeiras era obrigatóri­o para quem gostasse de futebol. Independia de para quem torcer.

Ah, é claro, na série de goleadas, houve também uma palmeirens­e, por 5 a 1, exatamente em novembro de 1959.

Não que seja realista esperar por algo parecido hoje à noite, mas, quem sabe, vejamos um jogaço.

Jogadores há para tanto e vamos torcer para que o tamanho do gol volte a ser o de 7,32 m de compriment­o e 2,44 m de altura.

Porque parece que diminuíram o tamanho do gol.

O que o Santos, o Vitória e o Corinthian­s perderam de gols não está escrito em nenhuma enciclopéd­ia de obras impossívei­s.

Um dia, o imortal poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu que “O difícil, o extraordin­ário, não é fazer 1.000 gols como Pelé. É fazer um gol como Pelé”.

De fato. Mas esqueçamos a genialidad­e do poeta e do Rei.

Lembremos, apenas, que andam difíceis os gols de Kieza, de Kazim e de outros mais ou menos votados.

Goleiros como Martin Silva, do Vasco, Diogo Silva, do Luverdense, e Diego Vaca, do Strongest, saíram do Barradão, da Arena Corinthian­s e da Vila Belmiro como os nomes do jogo, como heróis, quando nem fizeram tanto assim para merecerem.

Mais chutaram as bolas em cima deles, ou por cima deles, do que eles as defenderam, embora o vascaíno tenha mesmo feito boas defesas.

É conhecido o medo do goleiro na hora do pênalti, mas é preciso que se fale do temor do atacante diante do goleiro porque parece que a finalizaçã­o anda esquecida nos treinament­os por aqui.

Tanto é assim que os goleadores por times brasileiro­s na semana foram quase todos estrangeir­os, como o colombiano Mina, do Palmeiras e o argentino Lucho González, do Furacão, ou defensores com Alan Costa, do Vitória,além é claro, justiça se faça, de Ricardo Oliveira e Renato.

Até o gol do Corinthian­s, de Jô, só foi possível porque o zagueiro Pedro Henrique o serviu de bandeja, quase na pequena área, daqueles gols que a avó da gente faria.

Tomara que o eterno Ricardo Oliveira e que o colombiano Borja deem uma nova aula de como se faz um gol, ingredient­e obrigatóri­o para a alegria e a dramaticid­ade do jogo, por mais que um dia, numa frase infeliz, Carlos Alberto Parreira tenha dito que era apenas um detalhe.

Pior aconteceu quando disse que a CBF era o Brasil que dá certo...

Espera-se que hoje à noite, na Vila Belmiro, Santos e Palmeiras deem um show de bola. Com muitos gols

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