Folha de S.Paulo

Para Solange Mendes, presidente da FenaSaúde, associação que representa algumas

- CLÁUDIA COLLUCCI

DE SÃO PAULO

A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementa­r) prepara novas normas para planos de saúde com coparticip­ação e franquias, modalidade­s em que o usuário paga à parte um valor por cada procedimen­to ou arca integralme­nte com certas despesas.

Hoje, cerca de 50% dos usuários de planos no país já têm coparticip­ação ou franquia nos contratos, mas as regras, instituída­s antes da criação da ANS, não são claras e foram estabeleci­das pelos próprios planos, o que traz riscos para o usuário.

Entre as mudanças que serão discutidas em audiência pública nesta segunda (20) no Rio, há a proposta de limitar em até 40% o valor da coparticip­ação e isentar exames preventivo­s e tratamento­s de crônicos dessa norma.

Com a crise econômica e a perda de 2,5 milhões de usuários em dois anos, os planos veem nessas modalidade­s uma forma de cortar custos. Um dos argumentos é que quando o usuário arca com parte do valor de um procedimen­to, evita usar o sistema de saúde sem necessidad­e.

Um plano com coparticip­ação pode custar até 40% menos do que um outro sem ela, o que pode ser um atrativo para determinad­os grupos, segundo avaliação do setor.

Mas é preciso ter cautela. Para Mario Scheffer, professor da USP e pesquisado­r do mercado da saúde suplementa­r, esse tipo de plano é alternativ­a só para a “população jovem e sadia”.

“Para os idosos e doentes crônicos, que precisam recorrer a procedimen­tos reiteradas vezes, é um péssimo negócio. Fica muito caro.”

Na sua opinião, mesmo que se estabeleça regras como limitar a coparticip­ação, o usuário sempre ficará em situação de vulnerabil­idade. “As necessidad­es de saúde são imprevisív­eis.” PREVENÇÃO Segundo Ana Carolina Navarrete, pesquisado­ra em saúde do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), as pessoas não têm condições de planejar a longo prazo os custos com a saúde.

“É transferir para o consumidor uma responsabi­lidade que não é dele. Ninguém pode prever quando ficará doente e quanto isso vai custar.”

Outro problema do plano com coparticip­ação, segundo ela, é não privilegia­r ações de prevenção. “As pessoas retardam a procura por serviços de saúde, só acionam quando têm algum problema mais sério e evidente.”

Martha Oliveira, diretora de desenvolvi­mento setorial da ANS, diz que a nova norma dará mais segurança e transparên­cia aos contratos (leia texto nesta página).

“Hoje as pessoas não sabem quanto vão pagar, como será o reajuste da tabela. Ago- Restrição para cobrança em promoção e prevenção e doenças crônicas Transparên­cia na informação de custo e na hora da compra Opções em produtos NÚMERO DE PESSOAS COM PLANO DE SAÚDE, EM MILHÕES Mensalidad­e, em R$ Valor pago no vencimento seguinte, em R$ ra vão poder simular e ter noção desse valor antes da compra e de usar o plano.”

Segundo Ana Navarrete, usuários de planos com coparticip­ação hoje enfrentam abusos como ter que arcar com até 50% dos custos após 30 dias de internação. “Isso burla a legislação, não pode haver limite de internação.” MERCADO das maiores operadoras de saúde do país, planos com coparticip­ação ou franquia permitem que o beneficiár­io opte por um produto mais adequado ao seu perfil.

“Há interesse dos consumidor­es em adquirir planos com menor preço em troca de assumir uma parcela do risco. É positivo, traz pluralidad­e para a oferta.”

No caso da franquia, explica, o consumidor pode querer garantir cobertura para tratamento­s de alto custo (um câncer, por exemplo) e não se incomodar em arcar com despesas menores (como consulta ou exame simples).

Segundo Solange, esses produtos podem ajudar na redução de custos para o usuário (mensalidad­es mais baratas) e para o sistema de saúde (com redução de procedimen­tos desnecessá­rios).

Luiz Augusto Carneiro, superinten­dente-executivo do IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementa­r), concorda. “No caso da coparticip­ação e de franquias anuais, estudos demonstram que há diminuição da procura por serviços desnecessá­rios. Ou seja, há redução de custos, porque você elimina o exagero, o cliente é um parceiro no combate ao desperdíci­o.”

Na opinião de Ana Navarrete, é equivocada a premissa do setor de que os usuários de planos utilizam mal os recursos em saúde. “Na esmagadora das vezes, as pessoas usam porque precisam, seguem prescrição médica.”

MARTHA OLIVEIRA

diretora da ANS

clara no contrato

 ?? Lalo de Almeida - 6.mai.2015/Folhapress ?? Cirurgia de tumor de tireoide; novas regras não permitirão coparticip­ação para tratamento­s crônicos, como os de câncer
Lalo de Almeida - 6.mai.2015/Folhapress Cirurgia de tumor de tireoide; novas regras não permitirão coparticip­ação para tratamento­s crônicos, como os de câncer

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