Folha de S.Paulo

Chile, Barcelona, Salvador

- NIZAN GUANAES COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sábado: Marcos Sawaya Jank; domingo: Samuel Pessôa

A RUA Chile não é mais aquela rua do passado de Salvador e da minha infância. Aquela rua onde ficavam a farmácia Chile, a farmácia dos baianos, e a loja Sloper, onde ia fazer compras com a minha mãe após sofrer muito no dentista.

Depois de décadas decadentes, depois da maior crise econômica da história do país, a principal artéria do centro histórico e comercial de Salvador começa a renascer. Graças a gente como Rogerio Fasano, Antônio Mazzafera e ACM Neto, a primeira rua do Brasil será o coração de uma nova Salvador.

E o que acontece em Salvador não fica em Salvador, o Brasil sabe disso desde que nasceu.

Mazzafera é um amigo que fiz quando ele morava em Londres, onde cuidava de um dos melhores hotéis da cidade.

Empreended­or que estudou em Harvard, ele reformou o antigo e belo Hotel Palace, construção art déco dos anos 1930 inspirada no edifício Flatiron de Nova York, para ser o novo e belíssimo Fera Palace, um hotel design de muito bom gosto, feito a quatro mãos, com a ajuda do arquiteto dinamarquê­s Adam Kurdahl. Do hall impactante e chique à sua deslumbran­te piscina no “rooftop”, tudo nele nos diz: a rua Chile voltou.

Mazzafera planeja fazer muitos investimen­tos na área, de um prédio-garagem de design arrojado a edifícios de escritório­s que vão incendiar a rua Chile e fazer dela o point de uma Salvador ao mesmo tempo histórica e antiga, mas também moderna, baiana e global.

O sonho grande de Mazzafera será potenciali­zado com a chegada, pelas mãos da grife Fasano, do Hotel Palace à praça Castro Alves, ocupando a antiga sede do jornal “A Tarde”, outro belo prédio art déco dos anos 1930. Castro Alves, poeta morto aos 24 anos já com uma obra gigantesca, merece essa beleza.

Não conheço detalhes do projeto, mas conheço Rogério Fasano. Tudo o que ele faz é lindo, inteligent­e, chique e de alta qualidade. A praça onde a rua Chile deságua voltará à sua antiga glória com aquela vista magnífica e imponente da baía de Todos os Santos.

Nasce, assim, em plena rua Chile, uma Barcelona capaz de transforma­r criativida­de em inovação, visão em realidade.

Junta-se a Mazzafera e a Fasano o fator Neto. Jovem e moderno como os dois empreended­ores, ele está modernizan­do e cuidando de Salvador com competênci­a, criando condições para que investimen­tos como esses aconteçam cada vez mais.

Sempre defendi isso. O futuro de Salvador está no seu passado. Quando os portuguese­s chegaram aqui, escolheram o melhor ponto, onde a vista avista a baía que deu nome a tudo, onde a brisa ameniza aquilo que o sol castiga, onde o olho descansa no mar.

Agora, a rua mais antiga do Brasil caminha para ser a mais moderna. A primeira rua será a rua primeira de uma Salvador do futuro. A preservaçã­o e, mais do que isso, a revitaliza­ção do patrimônio histórico é uma bênção ao conhecimen­to do passado e à construção do futuro.

Nos anos 1980, convencemo­s o então poderoso presidente-fundador da Sony, Akio Morita, a entrar na campanha pela revitaliza­ção do Pelourinho, o bairro em que nasci, bem perto da rua Chile. O Pelourinho virou símbolo da beleza e da força criativa nacional e palco global para estrelas como Paul Simon e Michael Jackson.

O Brasil começa finalmente a sair de sua pior crise econômica. O que mais precisamos agora são sonhos grandes realizados pelas mãos de empreended­ores visionário­s, como no renascimen­to da rua Chile.

Salvador, amor da minha vida, que bom que você voltou.

A rua Chile, principal artéria do centro histórico e comercial de Salvador, começa a renascer

NIZAN GUANAES,

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