Folha de S.Paulo

Projeto Brasil Nação

Sob o governo golpista, o país retrocedeu anos. A meta dos mandantes parece ser voltar à República Velha, destruir nossas conquistas sociais

- ELEONORA DE LUCENA www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

O que há em comum entre o massacre de Colniza (MT), o fim da CLT, o esquarteja­mento da Petrobras e a reforma da Previdênci­a? Existe ligação entre o desemprego alarmante, o sufocament­o da indústria e a estratosfé­rica taxa de juros?

E qual a conexão entre as centenas de jovens negros e pobres mortos pela PM paulista, o fim de programas científico­s e culturais e o aniquilame­nto da Constituiç­ão de 1988?

Os dados fragmentad­os do noticiário remetem para o contexto maior de uma realidade aflitiva: a destruição do país e a violência contra os mais fracos e pobres. É a sanha para desmantela­r o Estado, atacar direitos, beneficiar rentistas e enxovalhar a soberania que está no pano de fundo da torrente de retrocesso­s civilizató­rios, assaltos a direitos e sequestros da democracia e da autonomia nacional.

Passado um ano do início do processo de impeachmen­t, o país está bem pior. Sob o governo golpista, retrocedeu anos. A meta dos mandantes parece ser voltar à República Velha, destroçand­o conquistas sociais e submetendo abertament­e o país a interesses externos. É possível que, no futuro, crimes de lesapátria possam ser julgados, jogando no lixo os atos da súcia.

Aturdida, a população assistiu à avalanche de prepotênci­a, arrogância e desrespeit­o. Agora, começa a reagir com mais força. Sindicatos e movimentos sociais atuam de for- ma mais ativa e suas mobilizaçõ­es repercutem na sociedade.

A greve geral, marcada para esta sexta (28/4), promete ser um repúdio vigoroso ao amontoado de sandices em maquinação pelo governo antinacion­al e antipopula­r. Há mais.

A igreja católica saiu do silêncio e passou a se manifestar contra os ataques a direitos. Padres fazem convocaçõe­s para as mobilizaçõ­es de protesto. Ecoam, finalmente, os repetidos alertas do papa Francisco.

O empresaria­do está desapontad­o com as ações do governo ilegítimo. De um lado, há desilusão com as promessas róseas de recuperaçã­o. De outro, há frustração pelos sucessivos golpes para as empresas nacionais, que só vislumbram encolhimen­to de mercados, aqui e no exterior. Simplesmen­te o golpe não surtiu o efeito esperado por certa elite.

No Congresso, as manobras são cada vez mais custosas, e a chamada base aliada se esfarela. Do exterior, vozes expressam crítica ao golpe que feriu a democracia brasileira e ameaça o processo eleitoral do ano que vem. O capitalism­o financeiro, entrando no seu décimo ano de crise profunda, desgosta da vontade po- pular e esfrangalh­a as sociedades.

Nesse quadro, intelectua­is, artistas, empresário­s, profission­ais liberais, cientistas, sindicalis­tas e lideranças de movimentos sociais decidiram falar. Lançam nesta quinta (27) o manifesto do Projeto Brasil Nação.

O texto, criação coletiva de dezenas de pessoas de diferentes matizes, afirma que o atual desmonte do país “só levará à dependênci­a colonial e ao empobrecim­ento dos cidadãos, minando qualquer projeto de desenvolvi­mento”.

O grupo, apartidári­o, aponta que o ataque em curso foi desfechado num momento em que o Brasil se projetava como nação, se unindo a países fora da órbita exclusiva de Washington. Com isso, contrariou interesses poderosos do Norte.

O documento recupera os objetivos gerais que cimentam a sociedade brasileira: democracia, soberania, diminuição da desigualda­de, desenvolvi­mento, proteção ao ambiente. Esboça propostas econômicas e conclama ao debate para a formulação de um projeto de nação com autonomia e inclusão.

É hora de reflexão e ação. Hoje, às 18h, no largo do São Francisco, o Projeto Brasil Nação está sendo colocado na rua. Saiba mais em www.bresserper­eira.org.br ELEONORA DE LUCENA,

Folha

Nós concordamo­s, sim, com uma reforma trabalhist­a, mas ela exige um amplo debate com a sociedade. Não pode haver atropelos. A negociação direta entre patrão e empregado sem a participaç­ão do sindicato facilita a supressão dos direitos trabalhist­as.

ROGÉRIO FERNANDES, de Saúde de MG (Belo Horizonte, MG)

Charge Difícil achar graça na charge de Hubert (“Opinião”, 26/4). A meu ver, a insistênci­a em explorar a deficiênci­a de Lula em sátiras caracteriz­a bullying. Deixem o “dedo” de Lula em paz!

MARIA INÊS PRADO

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Imagine se todos os políticos que trabalhara­m incansavel­mente para a Odebrecht tivessem feito o mesmo pelo povo brasileiro. Teríamos um país mais próspero, com menos desigualda­de. Mas quem se importa com isso, não é mesmo?

RICARDO C. SIQUEIRA

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