Folha de S.Paulo

Governo tenta ganhar tempo para dobrar oposição a nova Previdênci­a

Contagem de aliados de Temer indica que ele ainda não tem votos suficiente­s para aprovação

- DANIEL CARVALHO LAÍS ALEGRETTI MARINA DIAS

Ameaça de rompimento do PSB e dificuldad­es com outros partidos da base governista levam a revisão do cronograma

Ciente de que ainda está longe dos 308 votos necessário­s para aprovar a reforma da Previdênci­a na Câmara, o governo já trabalha com a possibilid­ade de votá-la em plenário somente em junho.

Apesar de o Planalto acreditar que tem votos suficiente­s para aprovação na comissão especial que discute o tema, a contagem mostra apenas cerca de 150 votos segurament­e a favor no plenário.

Até o início desta semana, o presidente Michel Temer esperava aprovar na Casa as mudanças em maio. Confirmado esse atraso, a expectativ­a é que a votação no Senado fique só para setembro.

O núcleo político do governo informou ao Ministério da Fazenda que, diante das recentes dificuldad­es em votações menos polêmicas, é preciso se adequar à realidade. Na sua avaliação, o cronograma da reforma pode mudar.

“Só vamos colocar para votar quando tiver voto suficiente para ganhar. Não adianta botar uma reforma como essa sem ter uma base unida. Mas não podemos perder o timing”, disse à Folha o deputado Beto Mansur (PRB-SP), político próximo a Temer.

O presidente da comissão especial que trata da nova Previdênci­a, Carlos Marun (PMDB-MS), não descarta a possibilid­ade de adiar a votação ainda na comissão. A última previsão era fazer a apreciação em 2 de maio.

O governo tem enfrentado dificuldad­es com sua base aliada. Além da decisão da cúpula do PSB, que tem 35 deputados, de votar contra a reforma, há outras ameaças.

“O PR [39 deputados] é o partido que nos traz mais preocupaçã­o. Vejo muitos votos contrários [nas votações que têm ocorrido em plenário desde a semana passada]”, disse Marun, que cobra também uma posição de seu partido, o PMDB, com 64 deputados. CAUTELA Assessores de Temer contavam com o fechamento de questão de partidos como PMDB, PSDB, DEM e PP em favor da reforma previdenci­ária. Mas, nesta quarta-feira (26), já tratavam do assunto com mais cautela.

Para eles, o posicionam­ento deve vir somente do PMDB, partido do presidente, para dar “exemplo”.

“O PMDB tem que assumir seu papel, principalm­ente quando se tem um partido da base contrário”, afirmou Marun, referindo-se ao PSB.

Ministro das Cidades licenciado por ordem do governo para garantir os votos de sua legenda, o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE) disse que a bancada tucana, com 47 deputados, ainda está dividida, mas em processo de “convencime­nto progressiv­o”.

Carlos Marun apresentar­á ao Planalto, na semana que vem, estudo que indica que o governo deve trabalhar para atrair 320 deputados mais propensos a referendar o texto. São parlamenta­res com histórico de fidelidade ao governo, mas que podem estar “assustados” com o assunto, considerad­o impopular.

Outros 40 deputados não apoiam declaradam­ente a reforma, mas poderiam, segundo Marun, rever a posição.

Os outros cerca de 150 parlamenta­res são “casos perdidos”, de acordo com o deputado, e não há chance de apoiarem o texto. Entre esses estão os integrante­s dos partidos de oposição a Temer.

Diante da perspectiv­a de adiamento do calendário de votação, o relator da proposta, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), pretende fazer novas conversas com as bancadas.

Para o presidente da comissão, é preciso que os aliados reconheçam as concessões feitas no relatório e que, diante disso, apoiem o texto.

“Não pode acontecer o que está acontecend­o até agora: o pleito não vir agregado ao compromiss­o. Sinto que não existe número suficiente de deputados comprometi­dos com a aprovação do projeto”, afirmou Carlos Marun. Se não houver mudanças, reforma é promulgada pelo Congresso Se houver alterações, proposta terá que ser reexaminad­a pela Câmara

 ?? Pedro Ladeira - 24.abr.17/Folhapress ?? O presidente Michel Temer e o ministro Henrique Meirelles durante reunião no Planalto
Pedro Ladeira - 24.abr.17/Folhapress O presidente Michel Temer e o ministro Henrique Meirelles durante reunião no Planalto

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