Folha de S.Paulo

Olhar oblíquo oferece novo ângulo sobre exílio de Zweig

- CÁSSIO STARLING CARLOS

FOLHA

No tempo anômalo em que vivemos, em que preferimos o “reality” às realidades, chama a atenção o modo como os filmes vêm retratando personalid­ades históricas, libertando a cinebiogra­fia das fórmulas antiquadas e oferecendo novos ângulos sobre homens e mulheres ilustres.

Logo depois de “Neruda” e “Jackie”, ambos de Pablo Larraín, “Stefan Zweig - Adeus, Europa” é também uma cinebiogra­fia distorcida, um exemplo que os adeptos de fidelidade­s consideram insuficien­te.

O longa, terceiro trabalho na direção da atriz alemã Maria Schrader, narra a tragédia pessoal do escritor austríaco que fugiu do nazismo e acabou se suicidando ao lado da mulher no exílio, em Petrópolis, em 1942.

Schrader se inspira na reputada biografia “Morte no Paraíso”, do jornalista Alberto Dines, mas adota soluções narrativas distintas, que iluminam de outro modo a personalid­ade e as circunstân­cias do exílio de Zweig.

O longa emula a estrutura de um romance, dividindo-se em prólogo, quatro capítulos e epílogo. Esse método simplifica­do de parecer literatura ganha ao proporcion­ar um relato descontínu­o, falhado, distante, portanto, da ilusão biográfica totalizant­e.

Como a produção não pôs os pés no Brasil, pode-se criticar o filme por falhas de acabamento. Isso, no entanto, joga mais luz sobre a experiênci­a do exílio como desconfort­o, inadequaçã­o.

A engenhosa solução adotada no epílogo, sobre o suicídio de Stefan e Lotte, reafirma que um olhar oblíquo pode dar a ver mais do que aquele que mostra tudo e que não à toa denominamo­s obsceno. (V ORD ER MORGENRÖTE) DIREÇÃO Maria Schrader ELENCO Tómas Lemarquis, Barbara Sukowa, Josef Hader PRODUÇÃO Alemanha/França/ Áustria, 2016, 12 anos QUANDO estreia nesta quinta (27) AVALIAÇÃO bom

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