Folha de S.Paulo

Temer confirma que ouviu relato de pagamentos, mas nega ato ilícito

A aliados, presidente admite que não manifestou objeção ao escutar Joesley falar de repasses

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Presidente disse que entendeu pagamento como sendo um ato de solidaried­ade à família do ex-deputado preso

O presidente Michel Temer negou em nota que tenha “solicitado pagamentos para obter o silêncio de Eduardo Cunha”, mas confirmou a aliados que ouviu de Joesley Batista relato de pagamento para o ex-deputado e não manifestou objeção.

Segundo o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), que esteve em reunião com o presidente no Palácio do Alvorada, o presidente confirmou que Joesley relatou ter dado “auxílio” a Cunha.

Outros dois participan­tes de conversas com o presidente na noite desta quarta-feira confirmara­m os relatos à Folha. Eles afirmam que Temer diz ter entendido o pagamento como um “ato de solidaried­ade” à família do ex-presidente da Câmara.

Segundo a nota divulgada por Temer, o encontro ocorreu no começo de março deste ano, no Palácio do Jaburu, mas “não houve, no diálogo, nada que compromete­sse a conduta do presidente da República.”

Ele afirmou ainda que “não participou e nem autorizou” qualquer movimento para evitar a delação de Cunha e que defende “investigaç­ão para apurar as denúncias, com a responsabi­lização dos eventuais envolvidos em quaisquer ilícitos que ve- nham a ser comprovado­s”.

A aliados, Temer afirmou que não cogita renunciar ao mandato. Mas auxiliares avaliam que, diante do desgaste que a íntegra dos áudios pode trazer ao governo e ao presidente, a alternativ­a não deve ser descartada.

Há também assessores que defendem que o peemedebis­ta peça a nulidade da delação premiada da JBS, por seu conteúdo ter vazado antes da homologaçã­o pelo Supremo.

Eles lembram que, em agosto do ano passado, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, determinou a suspensão das negociaçõe­s do ex-presidente da OAS Leo Pinheiro, alegando quebra de confidenci­alidade.

Temer estava discutindo as alterações na medida provisória do Refis com o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) quando, por volta das 19h30 desta quarta, o secretário de Comunicaçã­o, Márcio de Freitas, entrou no gabinete presidenci­al e mostrou na tela de seu celular a reportagem com a informação de que o presidente havia sido gravado por um dos donos do grupo J&F.

Em seguida, chegaram os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) para discutir o impacto da notícia na imagem de Temer e do governo.

O presidente parecia preocupado, mas tentou transparec­er calma, agradecend­o pelo apoio de assessores e dizendo que a vida segue e que cumpriria agenda cedo nesta quinta (18).

Temer divulgou uma agen- da “anormal” para esta quinta, com 18 audiências com parlamenta­res. Começa às 8h e termina às 18h30.

Nas primeiras horas da noite, Temer começou a esboçar a estratégia para tentar minimizar os impactos da gravação em sua imagem, na de seu governo, e, principalm­ente, na votação das reformas pelo Congresso.

Mesmo assim, até os mais otimistas admitiam que a situação do governo ficou “muito complicada” e que, além dos pedidos de impeachmen­t protocolad­os pela oposição —o primeiro foi do deputado federal Alessandro Molon (Rede-RJ)—, Temer seria pressionad­o a renunciar ao cargo ou a convocar eleições diretas para presidente, algo não previsto na Constituiç­ão.

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