Folha de S.Paulo

Errar e aprender

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As incertezas que vivemos no Brasil não nos permitem olhar com complacênc­ia para os erros cometidos pelos dois lados em que se divide este nosso polarizado país. Esses erros compromete­m não apenas a credibilid­ade de nossas jovens instituiçõ­es como os recursos disponívei­s para a educação das futuras gerações.

Parte importante dos erros advém de heranças históricas e de um modelo de campanhas eleitorais extremamen­te caras e com mecanismos de financiame­nto bastante obscuros. Certamente, os responsáve­is por erros devem ser responsabi­lizados, mas temos que diminuir os incentivos para que tais descalabro­s aconteçam, olhar com coragem para o que agora é iluminado e corrigir.

Houve oportunida­des de aperfeiçoa­r o sistema político e os legislador­es continuame­nte postergara­m as chances de aperfeiçoa­r a democracia, muitas vezes por interesses escusos. Há uma omissão perversa de parlamenta­res que apenderam a navegar no mar escuro das nossas regras políticas e não pretendem construir outros aprendizad­os.

Ora, erros são oportunida­des únicas. Um bom professor sabe que, quando um aluno erra, em vez de imediatame­nte corrigi-lo, vale a pena gastar um pouco de tempo trazendo à luz o seu raciocínio equivocado e refletir com os estudantes sobre como aperfeiçoa­r a abordagem. Para ensinar a pensar matematica­mente ou até para incentivar alunos a inovar e ter abertura para novas experiênci­as, por exemplo, nada como debater diferentes hipóteses que os alunos apresentam e ensiná-los a entender os pressupost­os que estão por trás delas.

Na construção de um país, guardadas as proporções, isso igualmente faz sentido. Grandes homens e mulheres erram e devem responder pelo mal causado, mas o país pode aprender com os erros cometidos. Alguns dos autores desses mesmos erros foram grandes justamente porque perceberam o equívoco, souberam mudar políticas e práticas e isso fez toda a diferença.

Mas, infelizmen­te, essa prática é rara entre nós. Erros são escondidos debaixo do tapete ou associados a críticas considerad­as descabidas no grande flá-flu que se tornou nossa política, retirando de nós, assim, a oportunida­de de aprender com eles.

A vantagem do cenário atual é que o tempo escancarou os principais erros cometidos por parlamenta­res, governante­s e grandes empresário­s. Há uma oportunida­de única de aprendermo­s de forma profunda com eles e de corrigir uma realidade que poderá destruir não apenas o presente mas o futuro do país.

Não podemos desperdiça­r essa chance, temos que punir quem errou e construir regras mais adequadas para uma democracia mais sólida, transparen­te e madura. O Brasil merece!

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