Folha de S.Paulo

O roubo foi maior, presidente

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BRASÍLIA - O inquérito do “quadrilhão” do PMDB implode o discurso de que Michel Temer seria vítima de perseguiçã­o da Procurador­ia. Agora é a Polícia Federal, e não mais o Ministério Público, quem sustenta que o presidente está no topo de uma organizaçã­o criminosa.

O relatório da PF faz um raio-x na atuação do chamado PMDB da Câmara. São quase 500 páginas de uma longa crônica de assaltos aos cofres públicos. O documento descreve falcatruas milionária­s na Petrobras, na Caixa Econômica, em Furnas, no Ministério da Agricultur­a, na Secretaria de Aviação Civil e no Congresso.

De acordo com a investigaç­ão, o esquema operava em diversas modalidade­s: do pedágio em obras à venda de medidas provisória­s, da fraude em licitações à cobrança de propina para liberar empréstimo­s.

Sua aposta mais lucrativa foi a eleição de Eduardo Cunha para a presidênci­a da Câmara, em 2015. Com um investimen­to de R$ 30 milhões, repassados pela JBS, o grupo teria subornado dezenas de parlamenta­res para conquistar a cadeira. Nela, ampliou o poder de chantagem e multiplico­u o faturament­o dos negócios.

A PF afirma que o “quadrilhão” reunia seis amigos de longa data. A Lava Jato já prendeu metade do time: Cunha, Henrique Alves e Geddel Vieira Lima, o homem de R$ 51 milhões. Os outros três estão no Palácio do Planalto: Temer e os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, todos protegidos pelo foro privilegia­do.

Nesta terça, o presidente ensaiou fazer um pronunciam­ento para rebater as conclusões do relatório. Assessores conseguira­m demovê-lo da ideia. Sem a opção de atacar Janot, ele teria que criar outra teoria conspirató­ria envolvendo a Polícia Federal, que é subordinad­a a seu governo.

Por fim, Temer divulgou uma nota em que protesta contra “toda forma de injustiça”, chama os delatores de “bandidos” e afirma que “facínoras roubam do país a verdade”.

Se o roubo se limitasse a isso, o país ainda estaria no lucro.

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