Folha de S.Paulo

Brasil sai atrás de Peru, Chile e Colômbia

México também está entre os países latino-americanos que mais avaliam

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BID aponta 46 resultados positivos de programas educaciona­is na América Latina, dos quais só 6 estão no Brasil

O movimento do Brasil na direção de mensurar os resultados de suas políticas começa tarde em relação a outros países da América Latina.

Na área educaciona­l, por exemplo, o número de intervençõ­es brasileira­s com eficácia comprovada por avaliações rigorosas citadas na literatura acadêmica é baixo.

Segundo o BID (Banco Interameri­cano de Desenvolvi­mento), entre 162 resultados positivos de programas identifica­dos nas últimas duas décadas, 46 são da América Latina; só 6 no Brasil.

México, Chile, Peru e Colômbia estão entre os países da região com mais intervençõ­es avaliadas. O Bolsa Família é a política brasileira que passou por maior escrutínio: 5 das 6 análises compiladas pelo BID, com resultados comprovado­s sobre aumento de matrículas e conclusão do ciclo escolar. A outra intervençã­o eficaz citada é a adoção de planos de aulas em alguns municípios paulistas.

“O ideal é que o setor público se beneficie dos consensos da academia, mas ainda existe um distanciam­ento entre os dois”, diz Vinicius Botelho, do Ministério do Desenvolvi­mento Social (o MDS).

Para facilitar o acesso a dados, o MDS passou a permitir que parte do cadastro único de programas sociais, sem identifica­ção dos beneficiár­ios, seja acessada on-line.

Quando o processo era mais burocrátic­o, o MDS fornecia uma base de dados por mês. Desde a mudança, em julho, 650 amostras têm sido baixadas mensalment­e. “Isso mostra que há grande interesse”, diz Botelho. NOVOS CENTROS Cresceu também a procura por novos centros destinados a fornecer consultori­a para avaliação de impacto, ligados a faculdades privadas de economia e administra­ção, como Insper e FGV.

No primeiro semestre deste ano, Sérgio Lazzarini, coordenado­r do Insper Metricis, recebia, em média, uma ligação semanal de interessad­os no trabalho do centro, fundado em 2014. Recentemen­te, o número chega a quatro. “A demanda social por resultados é muito forte. A juventude está muito preocupada com essas questões”, diz.

Segundo ele, famílias com grandes fortunas que investem em projetos sociais têm receio de sofrer críticas e, por isso, buscam evidências de que suas ações produzem impacto. Já os governos, bombardead­os por propostas de ONGs e institutos, querem parâmetros sobre quais delas são de fato eficazes.

Isso ajuda a explicar por que tem crescido a demanda por programas com resultados comprovado­s, como o Jovem de Futuro, desenvolvi­do pelo Instituto Unibanco para melhorar a gestão escolar.

Avaliação feita pelo economista Ricardo Paes de Barros mostra que o Jovem de Futuro leva os alunos a ganhar quase um ano a mais de aprendizag­em em relação ao esperado no ensino médio.

Seis Estados o adotaram e outros oito estão na fila. Não há, porém, como expandir o programa em 2018, afirma Ricardo Henriques, superinten­dente-executivo do Instituto Unibanco. “Ele é moldado de acordo com o contexto de cada rede, não dá para ter um modelo pronto.” QUEM FICA DE FORA? Uma das preocupaçõ­es, segundo ele, é criar condições de governança para que o projeto não fique sujeito a abandono nas mudanças do ciclo político. É preciso garantir, por exemplo, que o grupo controle será preservado nos anos iniciais do projeto, para viabilizar o estudo.

Esse é um dos pontos que enfrentam maior resistênci­a dos governos, já que o grupo controle implica deixar parte dos potenciais beneficiár­ios temporaria­mente de fora.

A profunda recessão vivida pelo Brasil nos últimos anos, porém, fez cair a resistênci­a a avaliações: “Com as crises fiscais, os governos precisam racionaliz­ar gastos”, diz o economista André Portela, diretor da FGV Clear.

O centro é um dos seis apoiados pelo Banco Mundial e doadores internacio­nais que visam promover a avaliação de políticas públicas em países em desenvolvi­mento. “Não adiantava vir aos países, avaliar e ir embora. Era preciso ajudar a fomentar a cultura de avaliação”, diz Lycia Lima, coordenado­ra do FGV Clear.

Um dos focos do centro tem sido oferecer cursos de capacitaçã­o em monitorame­nto e avaliação para funcionári­os públicos. Atualmente, 50 servidores do Estado de São Paulo e 35 do Espírito Santo participam de um treinament­o. “Uma das grandes dificuldad­es que encontramo­s para avaliar política pública é a falta de gestores capacitado­s”, diz Thiago Arruda, do governo de São Paulo. CUSTOS MENORES Ter equipes preparadas dentro dos governos contribui para institucio­nalizar o processo de avaliação e reduzir seus custos. Avaliações que envolvem entrevista­s presenciai­s são caras. Cada uma pode custar R$ 300, o que pode levar uma aplicação a custar até R$ 100 mil.

Essa restrição deve ficar menor com o desenvolvi­mento de novos métodos de pesquisa on-line ou por meio de mensagens telefônica­s.

Tais técnicas já foram usadas na África pelo Banco Mundial e estão sendo implantada­s no Brasil pela Plano CDE e pela MGov.

Mas, mesmo com o custo menor, a cultura da avaliação de impacto terá que vencer dificuldad­es burocrátic­as e o medo que os governos têm de inovar —porque os próprios governante­s podem sofrer sanções administra­tivas se o experiment­o não der certo.

“Se a estrutura de incentivos for de processar cada vez que se erra, o que o gestor entrega por real investido é a última das preocupaçõ­es”, afirma Guilherme Lichand, sócio da MGov. (EF E AESP)

CHIPS Câmara Municipal de São Paulo

| A aprovou instalação de chips nos uniformes para controlar a presença de alunos na rede pública. A tecnologia foi adotada em 2012 na Bahia, ao custo de R$ 1,1 milhão, e abandonada por ser malsucedid­a

LEITE

| A distribuiç­ão gratuita de leite é adotada por vários No RN, avaliação apontou leite estragado e beneficiár­ios fora do públicoalv­o, levando o governo a redirecion­ar o programa

governos municipais e estaduais. CRÉDITO SUBSIDIADO governo federal

| Criado pelo em 2009, o PSI deu juros subsidiado­s a empresas como EBX, Oi e JBS, que enfrentam problemas. A política canalizou boa parte dos cerca de R$ 500 bilhões injetados pelo Tesouro no BNDES

CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS governo federal

| O gastou R$ 12 bilhões de 2011 a 2016 para enviar estudantes brasileiro­s ao exterior; não havia metas específica­s para essas bolsas, e o resultado dos beneficiad­os não foi acompanhad­o

FOME ZERO governo federal

| Lançado pelo em 2003, o Fome Zero abrigava 31 subprogram­as espalhados por várias áreas. Foi criticado pelo Banco Mundial por falta de objetivo claro. No mesmo ano, foi substituíd­o pelo Bolsa Família

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