Folha de S.Paulo

STF proíbe nota zero para redação do Enem que ferir direitos humanos

Exame tem início hoje; pela primeira vez, provas serão aplicadas em dois finais de semana

- PAULO SALDAÑA LETÍCIA CASADO

Para ministra do STF, não se pode limitar a liberdade de expressão; Ministério da Educação diz que não vai recorrer

Aplicado pela primeira vez em dois finais de semana consecutiv­os, o Enem começa neste domingo (5) com uma mudança na prova escrita. Por determinaç­ão judicial, redações que contiverem trechos com desrespeit­o aos direitos humanos não receberão mais nota zero.

A medida foi confirmada neste sábado (4) pela presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministra Cármen Lúcia. Ela manteve decisão anterior da Justiça Federal, que suspendeu o item 14.9.4 do edital da prova. Ele previa nota zero à redação “que apresente impropério­s, desenhos e outras formas propositai­s de anulação, bem como que desrespeit­e os direitos humanos’”.

No entendimen­to da ministra, proibir desrespeit­o aos direitos humanos implicaria limitar a liberdade de expressão. “Não se combate a intolerânc­ia social com maior intolerânc­ia estatal”, escreveu.

Em nota, o Ministério da Educação disse que não recorrerá da decisão da ministra. Segundo a pasta, os estudantes “precisam fazer a prova com segurança jurídica e com a tranquilid­ade necessária”.

A ação foi movida pela Associação Escola Sem Partido. Em 2015, 9.942 textos foram anulados por desrespeit­o aos direitos humanos. O tema naquele ano era “violência contra a mulher”. No ano anterior, foram 955. PROVAS DE HOJE A redação será aplicada neste domingo (5), junto com as provas de ciências humanas, linguagens e redação. Os portões abrem às 12h e serão fechados às 13h, consideran­do-se o horário de Brasília. A prova começa às 13h30 e tem duração de 5h30.

No próximo domingo (12), será a vez de os candidatos serem avaliados em matemática e ciências da natureza. Eles terão 4h30 para fazer o exame. Além da redação, cada prova tem 45 questões. A média é de 3 minutos para resolver cada uma delas.

A decisão de aplicar o exame em dois domingos, em vez de em um único final de semana, foi tomada pelo Ministério da Educação após uma consulta feita pela internet.

Coordenado­ra pedagógica do Objetivo, Vera Lúcia Antunes diz que a alteração foi positiva. “Os alunos conseguira­m melhores resultados nos nossos simulados.”

Porta de entrada para praticamen­te todas as universida­des federais do país, além de algumas estaduais, como a USP, o Enem recebeu 6,7 milhões de inscrições.

A prova será realizada, neste ano, em 1.725 municípios. Ao todo, são 12.432 locais de aplicação.

A avaliação registrou um histórico de falhas desde que virou vestibular, em 2009. Naquele ano, a prova vazou, e o exame foi cancelado. Houve ainda falhas de gráfica e vazamentos de questões, em 2010 e 2011, respectiva­mente.

Na última segunda-feira (30), a Polícia Civil de Goiás prendeu um grupo que dava golpes em concursos e planejaria fraudar o Enem.

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