Folha de S.Paulo

Sempre que chego no set, sei exatamente o que vai acontecer. Desde a primeira

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Aos 18 anos, eu vim pro Rio de Janeiro pela primeira vez. Quando eu desci no Rio e vi aquele mar, o Pão de Açúcar, o Corcovado… Na hora que eu botei o pé, falei: “É aqui que eu quero morar”. Acho que justamente porque eu senti que aqui eu ia ter a liberdade que eu tanto sonhava.

E de fato. Quando eu cheguei no Rio [aos 26], eu comecei a ter a minha vida, com todas as dificuldad­es, mas eu era livre. Não tinha dinheiro para nada, mas não interessav­a. Eu tava feliz. O PAI Quando eu voltei [a São Paulo], meu pai falou: “Olha, você quer morar no Rio, quer fazer sua vida, quer ser atriz. Então, eu não quero mais que você entre na minha casa”. E eu nunca mais entrei.

Cada vez que eu queria ver minha mãe, eu tinha que

Sobrou meu pai, só que depois daquela mágoa, daquela forma repentina de me anular da vida deles, fica muito difícil a gente ter alguma coisa, assim, de coração. Mesmo assim, eu jamais abandonei. Trazia meu pai pra cá, levava para as peças. Aí ele começou a ter orgulho, bastante.

A gente entende, a gente perdoa, mas é difícil limpar o coração totalmente. Humanament­e, acho que é até normal a gente sentir alguma

Quando ela conseguiu, eu falei: “Você quer! Você tem que falar! Quando alguém pergunta ‘Ah, você vai seguir a profissão da sua mãe?’, você fala assim: ‘Vou, porque eu gosto. Porque eu quero!’”. PERSISTÊNC­IA Nunca [pensei em desistir de ser atriz]. E olha que tive momentos difíceis, porque não sabia como é que a gente ia sobreviver no mês seguinte, sabe? Mas sempre aparecia alguma coisa. Eu nunca me lembro na minha vida que eu falasse assim: “Nossa, agora eu DEDICAÇÃO O jeito aplicado de ser eu sempre tive. Eu estudo exatamente como se eu estivesse estudando para uma prova de português, matemática, e quero tirar uma nota boa, entendeu? E acho que vou ficar bem velhinha e vou estar lá colorindo [grifando] meus textos e fazendo deles quase que uma instalação [rindo]. TEATRO Eu só consigo melhorar na TV se eu piso no palco. O teatro te propicia a pesquisa. É como se tivesse umas luzes por baixo [do palco]. Ele te irradia, te ilumina. Se eu sou exigente na televisão, no teatro eu sou 20 mil vezes mais.

Na televisão, você tem 30 e tantas cenas pra fazer num dia. Então, lógico, é muita coisa. Você sabe que, de todas aquelas cenas, teve duas em que você fez o seu melhor. E as outras você teve que cumprir.

A televisão é uma indústria. [Mas] você não pode olhar como

Eu vou ter um milhão de pessoas [no Instagram], sem ficar contratand­o gente pra postar. É es-pon-tâ-ne-o! [Dois dias depois, a atriz atingiu a marca]

Tenho que reconhecer isso. Me envaidece. Mas eu não vou acordar todo dia de manhã, pôr o pé no chão e já falar assim: “Olha, eu sou uma das melhores, tenho um milhão [de seguidores], não sei o quê”. Aí vai, atravessa a rua, cai um piano na sua cabeça e acabou essa história, acabou a vaidade, acabou tudo. Eu acho que a gente tem que ter bem os pés no chão. Né?

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