Folha de S.Paulo

Fome à vista

-

RIO DE JANEIRO - De repente, até mesmo em regiões onde certas culturas pareciam firmes e a prosperida­de, garantida, o fantasma da fome bate à porta.

Em vários países da Ásia, da África e da Oceania, as bananas estão sendo atingidas por um fungo, o Fusarium oxysporum, que causa uma doença resistente a remédios e de difícil detecção. Ele invade a bananeira pelas raízes, penetra no seu sistema vascular, despeja uma gosma que impede a circulação dos nutrientes e a faz produzir, em vez de gloriosas bananas d’água, reles bananicas. As bananeiras das Américas Central e do Sul ainda não foram atingidas, mas, dizem os estudiosos, as repúblicas especializ­adas no produto não perdem por esperar.

Há também aquele problema há muito denunciado em escala mundial: que fim levaram as abelhas? Mesmo no Brasil, o sumiço já pode ter chegado a 30% das colônias. É grave porque, na busca do alimen- to, as abelhas polinizam as plantações de frutas, legumes e grãos, significan­do que, sem elas, a produção cai. As hipóteses para o desapareci­mento vão do abuso de agrotóxico­s à poluição do ar e até aos sinais emitidos pelas torres de celular, que as fariam perder o senso de direção. O mundo tornou-se hostil às abelhas —não admira que elas estejam caindo fora.

E não sei o que acontece com as vacas francesas, mas a produção de leite na França caiu a níveis alarmantes nos últimos meses. Isso inflaciono­u o preço da manteiga e, em consequênc­ia, os croissants, que são 25% manteiga, desaparece­ram das padarias de Paris. Os franceses podem passar sem Montaigne, Rousseau ou Voltaire, mas não entendem a vida sem manteiga. É a manteiga que lubrifica a economia da França.

Lubrifica outras coisas também —imagine se essa crise se desse quando Marlon Brando estava filmando “Último Tango em Paris”, em 1972. MARCUS MELO

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil