Folha de S.Paulo

Fundos e Abilio disputam sucessão da BRF

Previ e Petros, os maiores acionistas, não querem validar nome indicado pelo empresário para assumir comando

- RAQUEL LANDIM

Companhia tem registrado prejuízos, e a avaliação é que seria preciso pôr no posto um executivo independen­te

A disputa entre o empresário Abilio Diniz e os fundos de pensão vem dificultan­do a troca de comando na BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão. A gigante de alimentos precisa encontrar um novo diretor-presidente até o fim do ano, quando Pedro Faria deixa o cargo.

Abilio, que preside o conselho de administra­ção e detém cerca de 4% da BRF, defende o nome de José Aurélio Drummond Junior, membro do colegiado e ex-presidente da Whirpool. A indicação tem apoio do fundo Tarpon.

Maiores acionistas da BRF, os fundos de pensão Petros (Petrobras) e Previ (Banco do Brasil) resistem à escolha de Drummond. As famílias Fontana e Furlan, que eram donas da Sadia e continuam com uma fatia minoritári­a, também não concordam.

Segundo interlocut­ores dos fundos, Petros e Previ não estão confortáve­is com a indicação de Drummond em razão de sua proximidad­e com Abilio e com a Tarpon. A avaliação dos fundos é que a BRF precisa de uma mudança significat­iva na gestão.

No fim de agosto, a companhia anunciou a saída de Faria e o início do processo de sucessão. O motivo foram os R$ 372 milhões de prejuízo registrado­s em 2016, o primeiro resultado negativo desde que a BRF foi criada, em 2009.

No primeiro semestre deste ano, a empresa voltou a apurar perda: R$ 167 milhões, comparado com lucro de R$ 42 milhões no mesmo período de 2016. O resultado do terceiro trimestre será divulgado na quinta-feira (9).

Procurada, a BRF informou que “não comenta especulaçã­o” e que “o processo de sucessão está sendo conduzido por um comitê eleito pelo conselho e sob sigilo”. Petros e Previ preferiram não se manifestar sobre o assunto.

O comitê responsáve­l pela sucessão é formado pelos conselheir­os Walter Malieni (Previ), Flávia Almeida (Península, holding dos investimen­tos da família Diniz), José Carlos Reis de Magalhães Neto (Tarpon) e Luiz Furlan (ex-presidente da Sadia).

Segundo pessoas próximas ao processo, a empresa de recrutamen­to contratada para encontrar o novo CEO já teria recebido algumas negativas. Os executivos sondados alegaram dificuldad­e em trabalhar com Abilio, conhecido pelo perfil centraliza­dor.

O empresário chegou à BRF quatro anos atrás com apoio da Tarpon, após perder uma turbulenta disputa societária no Pão de Açúcar, rede varejista que herdou do pai.

A Tarpon, que detém 8,4% da BRF, não estava satisfeita com a gestão de Nildermar Secches, ex-presidente da Perdigão. O fundo achava que o valor de mercado da companhia poderia subir e convenceu a Previ a apoiar uma mudança. A Petros foi contra.

Abilio prometeu levar a ação da BRF a R$ 100 em cinco anos, mas o prazo já se aproxima do fim e ele está longe de cumprir a meta. Nesta segunda-feira (6), o papel fechou a R$ 42,66 —o mesmo patamar de 9 de abril de 2013, quando ele assumiu a presidênci­a do conselho.

O empresário foi o principal padrinho de Pedro Faria, ex-executivo da Tarpon, para o cargo de CEO. As mudanças promovidas pela dupla, no entanto, não deram certo, e as margens de lucro da BRF encolheram.

Faria perdeu de vez o apoio do conselho depois que a Operação Carne Fraca prendeu dois executivos da BRF sob a acusação de pagar suborno a fiscais agropecuár­ios.

Desde então, o conselho passou por uma ampla reformulaç­ão e foram trocados vice-presidente­s e outros cargos importante­s.

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Danilo Verpa - 20.jul.2017/Folhapress O empresário Abilio Diniz, presidente do conselho de administra­ção da BRF e acionista com 4% de participaç­ão, que já tem seu indicado para o comando

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