Folha de S.Paulo

Vaivém previdenci­ário

Com atenções voltadas para a eleição e a disputa por cargos, governista­s ensaiam deixar reforma para 2019, elevando incerteza sobre a economia

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Quando o próprio ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, começa a debater publicamen­te sua possível candidatur­a presidenci­al em 2018, o prognóstic­o para a continuida­de das reformas econômicas se torna mais sombrio.

A eleição e as conveniênc­ias de campanha consomem parcelas crescentes do tempo e da energia do mundo político. Conspira ainda contra a pauta do governo a exaustão precoce do presidente Michel Temer (PMDB), após duas batalhas congressua­is para barrar denúncias apresentad­as pela Procurador­ia-Geral da República.

As atenções restantes da coalização situacioni­sta voltam-se para a xepa das verbas e dos cargos públicos. Cobra-se uma reforma ministeria­l para que se afastem da Esplanada brasiliens­e os ministros do PSDB —partido, por sua vez, mais dedicado hoje aos dramas intestinos que à agenda nacional.

Ademais, a retomada da economia, por precária que seja, basta para acomodar as autoridade­s. Temer já se dedica a expor melhoras obtidas em sua gestão —mesmo que para isso chegue a distorcer as comparaçõe­s com o passado recente, como mostrou esta Folha.

Nesse contexto, ensaia-se, cada vez mais às claras, o abandono da reforma da Previdênci­a Social, certamente o objetivo mais fundamenta­l do programa governista. No momento, as declaraçõe­s oficiais oscilam entre a exposição de dificuldad­es para o avanço do texto e a busca de atenuantes para uma eventual rejeição.

É fato que esta hipótese não implicará, de imediato, perdas de monta para as finanças públicas; fechar as contas do próximo ano depende mais de providênci­as como conseguir o adiamento dos reajustes salariais do funcionali­smo.

Entretanto aumenta sobremanei­ra a incerteza quanto ao futuro. O próximo presidente —de intenções e capital político imprevisív­eis— terá de viabilizar logo uma reforma se quiser manter o teto constituci­onal do gasto da União.

As despesas previdenci­árias, em escalada contínua, e as com juros e pessoal, também elevadas, já sufocam as demais políticas de Estado, de saúde e educação a segurança e infraestru­tura. Um afrouxamen­to do torniquete orçamentár­io, porém, levaria a dívida pública a uma trajetória de cresciment­o contínuo e insustentá­vel.

Tal fragilidad­e tornará o país vulnerável aos sobressalt­os da campanha eleitoral, ameaçando a própria recuperaçã­o econômica.

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