Folha de S.Paulo

Obter dinheiro para floresta vira dilema para o Brasil

- REINALDO JOSÉ LOPES

sua meta de redução de emissões. O desmatamen­to em 2017 foi de 6.624 km2 na Amazônia. O número é 70% maior do que a meta que permitiria ao Brasil chegar a 2020 com 3.900 km2 desmatados.

Para André Guimarães, diretor-executivo da ONG Ipam, o diálogo com o governo pode levar a uma regulament­ação que beneficie os projetos florestais sem prejudicar a conta global do clima.

O documento lançado na COP reconhece que é preciso elevar a demanda dos compradore­s de créditos de carbono —por exemplo, criando metas para setores da economia, não só países. A aviação civil, por exemplo, não entra nas metas nacionais e responde por quase 10% das emissões globais.

ParaaAlian­çaRedd+,omercado de carbono seria um caminho para compensar essas emissões no curto prazo. Segundo o documento, os recursos de Redd no modelo atual respondem por apenas 6% das reduções de emissões no Brasil e, portanto, é preciso encontrar outras fontes de recursos.

O governo, no entanto, chega a Bonn otimista, depois de ter aprovado em reunião do Fundo Verde do Clima uma doação de 150 mil dólares para o Fundo Amazônia.

COLABORAÇíO PARA A FOLHA

O método mais eficiente para recriar uma floresta tropical desmatada talvez não envolva o plantio de milhares de mudinhas de árvores, mas simplesmen­te deixar que a natureza faça o seu trabalho.

Essa mensagem aparenteme­nte paradoxal é a principal conclusão de um estudo recém-publicado por pesquisado­res brasileiro­s no periódico “Science Advances”.

Ao analisar os dados de 133 estudos já publicados sobre restauraçã­o florestal mundo afora, eles verificara­m que, na maior parte dos casos, a intervençã­o humana direta é menos eficiente do que os processos naturais de regeneraçã­o da mata.

“O nosso trabalho indica que permitir esse processo é mais barato do que planejar o replantio da floresta e pode dar mais retornos ambientais em muitos casos”, diz Renato Crouzeille­s, do Instituto Internacio­nal Para Sustentabi­lidade (RJ) e um dos autores do estudo, que contou ainda com cientistas da UFRJ, PUCRJ e outras instituiçõ­es do Brasil e do exterior.

Tentar recriar uma floresta custa caro: entre US$ 1.400 e US$ 34 mil por hectare, dependendo do local e do método utilizado, segundo os autores da pesquisa.

Esse dispêndio tende a ser mais do que recompensa­do anos mais tarde pelos chamados serviços ambientais da mata, mas não é simples levantar os fundos iniciais para esse tipo de projeto.

O estudo mostrou que, no que diz respeito à recuperaçã­o da biodiversi­dade, a eficácia da regeneraçã­o natural foi de 34% a 56% superior à da restauraçã­o ativa.

No caso da recomposiç­ão da estrutura da vegetação (a “escadinha” natural na mata, desde árvores altas com enormes copas até pequenos arbustos), a primeira estratégia teve eficácia de 19% a 56% maior que a segunda. CASO A CASO Embora esse seja o quadro geral, as condições locais também influencia­m sucessos e fracassos. Ambos os tipos de recuperaçã­o da mata funcionam melhor em áreas nas quais chove mais, onde a destruição da mata original não foi tão severa e quando o processo de reconstruç­ão do ambiente teve mais tempo para se desenrolar.

“Em algumas áreas, com um distúrbio e um uso da terra pelo homem muito intenso, o único caminho acaba sendo o plantio completo”, ressalta Crouzeille­s.

Por outro lado, diz o pesquisado­r, os órgãos que planejam ações de restauraçã­o florestal precisam considerar que, em muitos casos, o processo natural pode ser opção eficiente e barata.

No caso de propriedad­es rurais que precisam recompor áreas de floresta para cumprir a lei, por exemplo, bastaria incentivar os produtores a cercarem áreas com condições favoráveis à regeneraçã­o —sem a presença do gado pisoteando as mudas de árvores que acabaram de germinar, o processo poderia acontecer por si mesmo, sem grandes gastos.

 ?? Patrik Stollarz/AFP ?? Durante Conferênci­a do Clima na Alemanha, ciclista passa em frente à estátua em homenagem a refugiados climáticos
Patrik Stollarz/AFP Durante Conferênci­a do Clima na Alemanha, ciclista passa em frente à estátua em homenagem a refugiados climáticos

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