Folha de S.Paulo

Com R$ 19 mi na Suíça, preso não consegue pagar fiança

André Souza, ex-membro do conselho do FGTS, foi alvo da Lava Jato

- FÁBIO FABRINI

Ele está no presídio da Papuda e precisaria desembolsa­r o valor de R$ 300 mil, mas seu dinheiro está bloqueado

Dono de quase R$ 19 milhões em uma conta na Suíça, André Luiz de Souza, exmembro do Conselho Curador do FI-FGTS (Fundo de Investimen­tos do FGTS) preso em junho por corrupção, precisa de 1,5% de sua fortuna para sair da cadeia.

A Justiça fixou fiança de R$ 300 mil, o que lhe permitiria deixar a Penitenciá­ria da Papuda, em Brasília, rumo à prisão domiciliar.

O problema é que quase toda a riqueza ficou depositada no exterior e está inacessíve­l. Não sobrou no Brasil dinheiro suficiente para pagar pela mudança de regime.

Milionário lá fora, mas alegando-se depauperad­o aqui, André Luiz tenta desde julho ser dispensado da cobrança.

Ele também fez parte do Comitê de Investimen­tos do FI-FGTS (Fundo de Investimen­tos do FGTS).

Inicialmen­te, discutia-se o pagamento de R$ 100 mil, mesmo valor que foi cobrado na liberação de outro investigad­o no caso.

A defesa do ex-conselheir­o pediu à 10ª Vara Federal em Brasília que o isentasse do valor em troca de colocar todo o saldo mantido no banco Credit Suisse à disposição da Justiça —patrimônio que, segundo o MPF (Ministério Público Federal), foi construído por meio de propinas da Odebrecht.

O ex-conselheir­o se compromete­u a entregar uma obra de Di Cavalcanti, que diz ter adquirido por US$ 216 mil, ou R$ 701,9 mil. O nome da peça não consta dos documentos entregues à Justiça. Os advogados propuseram doá-la ao Itamaraty, “a fim de que integre importante acervo da arte brasileira”.

Mas o MPF protestou, argumentan­do que fiança serve para cobrir custos do processo e multas. “Já os valores e o quadro, a serem depositado­s em juízo, são apontados como produto do crime, que deve sofrer pena de perdimento”, escreveu o procurador Anselmo Lopes em agosto. Ele propôs, então, pagamento de R$ 300 mil.

O juiz Vallisney de Souza Oliveira decidiu manter André Luiz preso. Entendeu que as informaçõe­s da defesa sobre os valores mantidos no exterior não estavam devidament­e “pormenoriz­adas” e que, com base nelas, não se sabia se a repatriaçã­o poderia ser feita sem problemas. Vallisney afirmou que a fiança poderia até ser diminuída ou considerad­a desnecessá­ria, mas somente se houvesse “certeza de que os valores vultosos no exterior” seriam transferid­os.

André Luiz recorreu e obteve habeas corpus da 3ª Turma do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região). Mas, entre as condições para seguir para o regime domiciliar, está o pagamento dos mesmos R$ 300 mil propostos pelo MPF.

A defesa dele tenta agora entregar à Justiça um imóvel comprado pelo ex-conselheir­o em Barreiras (BA), em 2014, por falta de “liquidez” para pagar em dinheiro.

O sítio “Sabiá”, de 38 hectares, custou menos que a fiança: R$ 270 mil, conforme a escritura do negócio, mas os advogados dizem que vale R$ 400 mil. A controvérs­ia ten- de a se alongar, pois o MPF pediu perícia para atestar o “valor real” do bem. Vallisney se julgou incompeten­te para julgar o caso nessa fase e decidiu remetê-lo ao TRF-1. “PRAINHA” André Luiz está na Papuda desde junho. Em audiência na Justiça, descreveu os primeiros dias na unidade como “um inferno”. Relatou ter sido jogado numa cela com “20 e poucos presos”, que o teriam intimidado e colocado para dormir na “prainha”, local de chão molhado próximo ao “boi”, como é chamado o vaso sanitário dos internos.

O ex-conselheir­o foi transferid­o depois para a ala dos vulnerávei­s, onde costumam ficar ex-policiais e políticos, menos desconfort­ável.

Ex-filiado ao PT, André Luiz foi indicado ao conselho pela CUT. O ex-conselheir­o responde a ação por receber pagamentos da Odebrecht de R$ 27,4 milhões e US$ 8,7 milhões [R$ 28,3 milhões], supostamen­te em troca de facilitar aportes na companhia.

Ele diz que recebeu por serviços prestados pelas suas empresas ao grupo. Seu advogado, Fábio Tofic, não atendeu a telefonema­s.

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Ana Paula Paiva - 26.ago.2008/O Globo André Luiz de Souza, ex-integrante do conselho do FGTS

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