Folha de S.Paulo

Por eventos extremos

- ANA CAROLINA AMARAL EM BONN JULIO ABRAMCZYK

FOLHA,

A 23º Conferênci­a do Clima da ONU começou na segundafei­ra (6) com a expectativ­a de que as questões de perdas e danos relacionad­as a desastres climáticos tomassem o centro das negociaçõe­s na cidade de Bonn, na Alemanha.

A COP deste ano, afinal, é presidida por Fiji, pequena ilha do Pacífico que corre o risco de ficar complement­e submersa devido ao aumento do nível do mar.

No entanto, as consultas informais da presidênci­a aos países, processo que tomou a primeira semana de negociaçõe­s, indicaram uma posição clara das nações desenvolvi­das: elas são contra a inclusão do tema perdas e danos como um item permanente da agenda de negociaçõe­s.

O pleito é defendido pelas pequenas ilhas e por países em desenvolvi­mento. Hoje, ele é discutido em um grupo de trabalho que até o final da COP deve publicar o “Plano de Trabalho para o Mecanismo de Varsóvia” —conjunto de recomendaç­ões para o avanço da agenda nos próximos cinco anos, baseado no documento assinado em 2013 em Varsóvia, na Polônia.

O principal ponto de atrito entre países desenvolvi­dos e em desenvolvi­mento é o financiame­nto, especialme­nte o direcionad­o a ações de adaptação (que visam se antecipar aos efeitos do clima) e de perdas e danos (casos em que os desastres não podem ser evitados, como a ocorrência de ciclones).

Embora sejam as maiores responsáve­is históricas pela emissão de gases do efeito estufa, as nações ricas dizem que não podem garantir financiame­nto para compensar as perdas decorrente­s das mudanças climáticas, cujos valores podem ser exorbitant­es. “Reconstrui­r um país pode ser algo impagável”, analisa Sabine Minniger, especialis­ta em políticas climáticas da ONG Bread for the World.

O Brasil tem sido contundent­e ao exigir que os países desenvolvi­dos se comprometa­m com ações relacionad­as a essa questão, principalm­ente no que diz respeito ao financiame­nto.

“Há ideias flutuando por aqui para conter a possibilid­ade de alguns países considerad­os ‘de renda média’ terem acesso a esses mecanismos [de financiame­nto] e isso está acontecend­o no GEF [Global Envinromen­tal Faciliy, que opera o Fundo Verde do Clima]”, criticou nesta sexta (10) o embaixador e negociador­chefe da delegação brasileira, Antônio Marcondes.

Para o Brasil, as categorias usadas no mundo financeiro não seriam suficiente­s para definir se um país precisa ou não de ajuda externa. Segundo Marcondes, esses critérios poderiam “impedir nações em desenvolvi­mento de implementa­r suas ações climáticas”.

Entre os dez países mais expostos aos efeitos das mudanças climáticas nos últimos 20 anos, nove são nações em desenvolvi­mento, segundo o ranking da German Watch, cuja edição deste ano foi lançada na quinta-feira.

A lista é encabeçada pelo Haiti e tem Fiji, presidente da COP-23, na terceira posição. Os EUA, que anunciaram sua saída do Acordo de Paris, figuram em décimo lugar. A organizaçã­o calcula o risco climático das nações com base na ocorrência de eventos climáticos extremos, como furacões, incêndios, secas severas, tempestade­s ou inundações. QUEM É O CULPADO? Uma das maiores dificuldad­es para o estabeleci­mento de compensaçõ­es por perdas e danos é a aparente impossibil­idade de identifica­r os responsáve­is por eventos específico­s.

“Um furacão não passa deixando um cartão postal assinado por uma petroleira”, ironiza Sabine Minninger. A ONG da qual é consultora apoia o socorro e a realocação de atingidos por desastres climáticos.

Minninger atua na área de perdas e danos causados pelo clima desde 2002 —“quando a gente ainda era visto como lunático”, lembra.

Para ela, atribuir culpados por eventos específico­s “não é

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