Folha de S.Paulo

PSDB e PMDB: #DateRuim

- CELSO ROCHA DE BARROS

SURPREENDE­NTEMENTE, A estratégia dos tucanos de apostar que não seriam traídos pelo PMDB, que havia acabado de trair o PT, deu errado. Por ordem de Michel Temer, Aécio Neves derrubou o presidente interino do PSDB, Tasso Jereissati, que vinha tentando distanciar os tucanos do governo federal. Em entrevista recente à BBC, o filósofo Marcos Nobre disse que Aécio passaria a desempenha­r o papel que foi de Eduardo Cunha. Ao menos no que se refere ao papel de derrubar os aliados que o PMDB trai, foi o que se viu na semana passada.

É a maior crise da história do PSDB, e tem uma chance razoável de acabar em cisão. Dependendo de como for conduzida a eleição para a presidênci­a da legenda, é bem possível que o grupo perdedor se retire do partido. Para onde irão os dissidente­s, se os governista­s forem vitoriosos? Suspeito que Luciano Huck esteja prestes a receber de presente aliados de peso.

João Doria, a propósito, apoiou Aécio e Temer. Para quem não se lembra dele, Doria foi um sujeito que foi presidenci­ável mais ou menos pelo tempo que durou a moda do fidget spinner, aquele brinquedin­ho de rodar no dedo. Outro dia desses matou o serviço para ir no congresso do MBL. Rapaz, se você prefere ir no congresso do MBL a ir trabalhar, você deve odiar de verdade seu emprego.

A crise política dos últimos anos colocou os piores partidos políticos do Brasil no poder. PT e PSDB foram, de longe, as melhores legendas do período democrátic­o. Representa­vam interesses claramente distintos, tinham ideologias diferentes, mas convergiam para o centro; copiavam os melhores programas um do outro, aprendiam um com o outro, e respeitava­m os resultados das eleições quando perdiam. Não teríamos os esforços de combate à corrupção recentes sem o jogo de denúncias e contradenú­ncias que tucanos e petistas jogaram durante mais de 20 anos.

Mas, até por serem os cabeças de chapa nas eleições presidenci­ais, PT e PSDB sempre estiveram diante dos holofotes e pagaram o preço por isso. Os escândalos de um são enfaticame­nte denunciado­s pelo outro, e cada um mantém a memória dos escândalos passados do outro. Um escândalo com Lula ou Aécio gera muito mais interesse público do que o 20º escândalo envolvendo o PMDB ou os outros partidos especializ­ados em vender apoio para quem vencer a presidenci­al. Ninguém espera nada dessa turma.

E nem PT nem PSDB podem denunciar o PMDB ou o Centrão com o mesmo entusiasmo que denunciam um ao outro. Os dois sabem que, se vencerem a eleição presidenci­al, precisarão do apoio da turma de sempre para conseguir maiorias parlamenta­res. A tentativa da direção do PT de se aproximar dos partidos que votaram a favor do impeachmen­t não é masoquismo: dois terços dos congressis­tas votaram para derrubar Dilma. Se não houver uma inesperada modificaçã­o na relação de forças no Congresso, o vitorioso de 2018 precisará conversar com gente que apoiou Temer, qualquer que seja sua preferênci­a ideológica.

Ao longo dessas duas décadas, torcemos para que PT e PSDB eventualme­nte esvaziasse­m essas máquinas de picaretage­m. Perdemos. Nesses últimos dois anos, o que vimos foi a derrota de nossas duas legendas mais ou menos modernas diante do que tínhamos de mais atrasado.

PT e PSDB foram as duas melhores legendas do período democrátic­o, mas a crise pôs os piores no poder

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