Folha de S.Paulo

O ano e o ano que vem

- GREGORIO DUVIVIER COLUNISTAS DA SEMANA: terça: José Simão, quarta: Reinaldo Figueiredo, quinta: José Simão, sexta: Ricardo Araújo Pereira, sábado: José Simão, domingo: Marcius Melhem

ACHO QUE foi em 2016 que tudo começou. De repente, da noite pro dia, só se falava em 2018. “E 2018, hein? O que é que vai rolar?” A coisa, claro, foi piorando ao longo de 2017. “E 2018, hein? Vocês tão pensando no que eu to pensando?” Hoje, já não se fala sobre o tempo quando falta assunto. No primeiro silêncio constrange­dor, alguém vai perguntar. “Mas e 2018, hein? Qual o chute?”

Todo o mundo tem uma teoria. Alguns apostam que Lula ganha, outros que ele vai ser preso, e tem os que acham que ele vai ganhar e depois ser preso, ou ser preso e ganhar de dentro da prisão. Tem os apocalípti­cos: se ele ganha o país entra em colapso, mas se ele vai preso o país também entra em colapso. O colapso parece inevitável. As razões prováveis tem dividido os especialis­tas.

Independen­te do diagnóstic­o, todo o mundo concorda que o ano já começou —a não ser aqueles que acreditam que o ano não vai começar. “To achando que não vai ter 2018”, vaticinam os mais pessimista­s. Entre eles tem os que já estão procurando na árvore genealógic­a algum tataravô gringo pra dar entrada num passaporte.

Cada ano tem sua sina, como mostram os livros e filmes que tem ano no título. Se 1968 foi o ano que não terminou, 1969 foi o ano que mudou nossas vidas, 1970 foi o ano em que meus pais saíram de férias e 1974 foi o ano que começou em Abril, 2017 tem a sina mais estranha de todos os anos. 2017 é o ano em que só se falou do ano seguinte.

A gente podia se distrair com o futebol, mas a Copa é só no ano que vem. A gente só vai descobrir em 2018 se o 7 a 1 foi um lapso passageiro da nossa história gloriosa ou se a goleada marcou o início de uma nova era de vexames da seleção canarinho. Alguma coisa se quebrou ali, resta saber se foi pra sempre.

Se 2015 foi uma grande ressaca, 2017, coitado, tá sendo uma grande véspera. Mas não é tipo véspera de Natal quando você é criança e você quer que chegue logo pra ganhar presente e comer rabanada e encontrar a família. É véspera de Natal só que você é adulto e você tem que comprar presente e produzir a rabanada e... encontrar a família.

2017, coitado, talvez fique conhecido como “o ano em que só se falou do ano seguinte mas não porque todo o mundo queria que chegasse logo mas porque tudo indicava que seria terrível”. Que ano estranho.

Chega de falar de 2017. E 2018, hein? O que vocês tão achando?

Todo o mundo concorda que o ano já começou, a não ser aqueles que acreditam que o ano não vai começar

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Catarina Bessell

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