Entre drama e comédia, filme italiano se perde no caminho
FOLHA
Nos últimos 30 anos é sensível a decadência de um certo cinema autoral. Os grandes nomes escassearam, e as gerações seguintes não conseguiram manter o nível de um cinema que desafie a classificação de entretenimento.
Esse fenômeno foi mais evidente na Itália do que em qualquer outro país. O cinema italiano já nos deu Fellini, Visconti, Antonioni, Pasolini e muitos outros. Hoje, precisamos de apenas uma mão para enumerar seus grandes diretores em atividade.
Nesse contexto, a diretora Francesca Comencini —da geração dos anos 1990, a mesma que teve como maior talento uma outra Francesca, a Archibugi (que lamentavelmente também decaiu)— esforça-se para fazer renascer um tipo de comédia na qual a Itália brilhava nos anos 1960 e 70.
Mas não se pode dizer que, com “Histórias de Amor Que Não Pertencem a Este Mundo”, tenha conseguido promover esse renascimento.
O filme nos mostra, em flashbacks que se alternam com as imagens do presente, os motivos que levaram Claudia e Flavio a terminarem um relacionamento longo e feliz.
Vemos os habituais momentos de crise do casal, com a sempre deliciosa reconciliação que pode ou não seguir uma crise. Mas vemos, principalmente, no tempo presente, o sofrimento de Claudia na tentativa de entender o que deu errado na relação.
É dela o ponto de vista que predomina no filme e, portanto, é com ela que sofremos. Torcemos para que, de algum modo, encontre a paz.
Essa entrega ao ponto de vista de sua personagem faz com que Claudio nos pareça um tanto sacana, mas não impede Comencini de inserir também alguma crítica ao comportamento burguês da sociedade italiana, e, mais especificamente, da romana.
Esse é seu maior trunfo. Por outro lado, sentimos que a narrativa é solta demais para que entremos totalmente no drama, e assim também a crítica perde força. Além disso, as alternâncias entre drama e comédia nem sempre são bem-sucedidas, dando uma impressão geral de que algo ficou no meio do caminho.
Francesca é uma das filhas diretoras do mestre italiano Luigi Comencini, outro dos grandes cineastas do passado, responsável por um dos filmes mais belos de todos os tempos: “Quando o Amor é Cruel” (1967).
A outra filha de Luigi, Cristina Comencini, assina, coincidentemente ou não, uma das outras estreias desta semana (“Algo de Novo”).
Um distribuidor esperto bem que poderia resgatar o filme do pai para termos uma autêntica reunião familiar no circuito comercial. DIREÇÃO Francesca Comencini ELENCO Lucia Mascino, Thomas Trabacchi, Valentina Bellè PRODUÇÃO Itália, 2017, 16 anos QUANDO estreia nesta quinta (16) AVALIAÇÃO regular