Folha de S.Paulo

Touros enfrentam chutes e som alto em rodeios pequenos

- -Marcelo Toledo

1 Rotina em eventos de SP também inclui longas esperas em currais apertados cafelândia, iacanga e santa gertrudes Pouco antes do início da montaria, o touro insiste em ficar no curral em que está. Minutos se passam e dois homens que tentam levá-lo para a arena começam a chutá-lo, sem sucesso.

Um deles resolve enrolar o rabo do animal e puxá-lo. Também não dá certo. Mais alguns minutos se passam até que os homens consigam puxar e levar o animal ao local para o qual não ele queria ir.

A situação aconteceu em Santa Gertrudes, um dos três rodeios em pequenas cidades paulistas em que a Folha esteve nas últimas semanas.

Os outros dois, em Cafelândia e Iacanga, também foram marcados por fatos que, para entidades de proteção animal, são considerad­os maustratos. Os rodeios negam.

Som muito alto, animais esperando até seis horas para serem usados e currais apertados sem ração ou água são rotina nesses locais.

Sem contar o sedém, principal ponto de discórdia entre rodeios e ONGs: para elas, a cinta que passa pela virilha do animal e o faz pular é torturante, enquanto para as festas o instrument­o só faz cócegas —e o boi pula

para se desvencilh­ar dela.

Em Cafelândia, funcionári­os que atuam nos bastidores disseram à reportagem que os animais chegaram para o evento às 17h30 e, a partir disso, não receberam alimentaçã­o ou água. Num dos locais em que estavam confinados, havia cinco animais em pé, apertados, sem espaço para locomoção. O rodeio foi aberto às 21h35, e as montarias terminaram perto da 0h.

Um decibelíme­tro usado pela Folha indicou som acima de 100 decibéis no evento, equivalent­e ao barulho de uma motociclet­a. Em Iacanga e Santa Gertrudes, o som chegou

a 115 decibéis, como num estádio de futebol. Estudos mostram que o ouvido humano pode sofrer lesões auditivas importante­s quando expostos a sons nesses patamares.

“É muito alto para um animal. Bois e cavalos, cavalos principalm­ente, têm o ouvido muito mais sensível que o nosso. É torturante para eles esse barulho, além da confusão com pessoas gritando e fogos”, diz a advogada Renata de Freitas Martins, que já ingressou com cerca de dez ações contra rodeios.

Animais chegaram a ser levados para as montarias em Cafelândia com o uso de condutor elétrico, que causa choques, o que também é visto como tortura na avaliação da ativista Claudia Carli, fundadora e diretora da ONG Amor de Bicho Não Tem Preço, que atua contra rodeios na região de Campinas. “Eles sofrem estresse, pavor. Isso é cultura pré-histórica.”

Em Iacanga, as montarias começaram às 22h, com animais próximos às caixas de som. Não houve condutor elétrico, substituíd­o por vara de bambu, mas ao menos dois touros receberam tapas no cupim antes das montarias.

“Quanto menor [o evento], mais comum é esse trato com o gado. Isso ocorre nos 2 3

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