Folha de S.Paulo

20 anos do Enem

- Claudia Costin Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educaciona­is, da FGV. Escreve às sextas

Inicia-se, neste domingo, mais uma edição do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que completa, em 2018, 20 anos de existência. Criado inicialmen­te para avaliar a qualidade desse nível de escolarida­de, passou, a partir de 2009, a ser usado para entrada no ensino superior, com importante papel na democratiz­ação do acesso a instituiçõ­es públicas e privadas de ensino terciário.

Para tanto, mecanismos complement­ares foram criados, como o Prouni, que oferece bolsas para alunos de baixa renda, desde que obtenham certa pontuação no exame ou o Sisu (Sistema de Seleção Unificada), que permite às instituiçõ­es públicas de todo o país oferecerem vagas a candidatos participan­tes do Enem.

Assim, não há necessidad­e de se prestar um exame de entrada para cada universida­de ou escola em que se deseja matricular, com as complicaçõ­es práticas como custos de passagens ou coincidênc­ia de datas dos certames.

A prova apresenta, além disso, uma configuraç­ão melhor do que o tradiciona­l vestibular, por ser mais focada (embora ainda mantenha certo “encicloped­ismo”) em competênci­as básicas necessária­s para a vida universitá­ria. Aumentou, também, muito o número de instituiçõ­es que aceitam o Enem como parte do processo de admissão para todos ou para alguns dos alunos.

A reforma do ensino médio, aprovada em 2017, ainda demanda, para maior clareza de suas caracterís­ticas, da homologaçã­o da Base Nacional Comum Curricular, atualmente em discussão no Conselho Nacional de Educação. Assim, ainda não sabemos que tipo de mudança será necessário no Enem para adequá-la aos diferentes itinerário­s formativos ali previstos.

O SAT, prova educaciona­l padronizad­a aplicada, nos EUA, a estudantes do ensino médio, como critério de admissão em universida­des no país, já prevê provas diferentes de acordo com o interesse do aluno ou exigências da escola que se pretende cursar. Isso faria muito sentido no nosso caso.

Mas devemos também considerar o quanto que um exame como o Enem influencia o que se ensina. O aumento das questões e dos temas demandados na matriz do exame leva a uma abordagem fragmentad­a, em sala de aula de escolas de ensino médio, que não deixa espaço para aprofundam­ento dos saberes ensinados.

Desta forma, resta pouco tempo para se ensinar a pensar, algo vital para o desenvolvi­mento das competênci­as necessária­s para o século 21, utilizando o ferramenta­l de cada domínio de conhecimen­to. Afinal, é bom lembrar o Brasil tem apresentad­o um desempenho pífio em testes internacio­nais em raciocínio matemático, pensamento científico e resolução criativa de problemas.

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