Folha de S.Paulo

Antes de Bolsonaro, sigla também buscou intimidar imprensa

- Marco Rodrigo Almeida

Antes de Jair Bolsonaro, o PT também havia tentado intimidar a imprensa com a ameaça de corte de verbas publicitár­ias federais.

Na última segunda (29), em entrevista ao Jornal Nacional (Globo), Bolsonaro atacou a Folha: “Não quero que [a Folha] acabe. Mas, no que depender de mim, imprensa que se comportar dessa maneira indigna não terá recursos do governo federal”.

Embora de forma menos explícita —e não verbalizad­a pela autoridade máxima do governo—, o PT já empregou táticas similares contra veículos com reportagen­s críticas e em benefício de outros mais alinhados ao partido.

Noticiou-se, em março de 2015, que o então presidente nacional do PT, Rui Falcão, defendeu o corte de publicidad­e nos veículos de comunicaçã­o que, na visão dele, “apoiaram” e “convocaram” manifestaç­ões contra a presidente Dilma Rousseff.

Falcão, em reunião com bancada petista, afirmou que a “quebra” do monopólio deve ser feita por meio de “uma nova política de anúncios para os veículos da grande mídia”.

Um ano antes, teve grande repercussã­o um artigo em que Alberto Cantalice, vice-presidente do PT na época, chamava jornalista­s e artistas críticos ao partido de “pitbulls da grande mídia”.

“Personific­ados em Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, Demétrio Magnoli, Guilherme Fiuza, Augusto Nunes, Diogo Mainardi, Lobão, Gentili, Marcelo Madureira entre outros menos votados, suas pregações nas páginas dos veículos conservado­res estimulam setores reacionári­os e exclusivis­tas da sociedade brasileira a maldizer os pobres e sua presença cada vez maior nos aeroportos, nos shoppings e nos restaurant­es”, escreveu.

O artigo foi criticado por associaçõe­s de jornalista­s brasileira­s e e estrangeir­as, como a Repórteres sem Fronteiras.

Também em 2014, o então deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ) apresentou um projeto de lei que tratava da distribuiç­ão de verbas públicas para publicidad­e e divulgação de campanhas e ações. Pela proposta, pelo menos 30% da verba oficial deveria ser destinada a “mídias alternativ­as, micro e pequenas empresas”.

Em audiência pública na Câmara, ele criticou veículos profission­ais de comunicaçã­o. “Pelo que a Rede Globo, a Folha ou o Estadão noticiam, o Brasil estaria à beira de um colapso. As manchetes são de caos total, com inflação galopante, desequilíb­rio fiscal e desemprego. No entanto, no Brasil real, a realidade é muito diferente. O povo precisa e merece ter acesso a essas informaçõe­s.”

Nos governos petistas, a Secom (Secretaria Especial de Comunicaçã­o Social), órgão responsáve­l pelos gastos com mídia, promoveu expressiva pulverizaç­ão da publicidad­e oficial. Segundo o site PT na Câmara, em 2003 menos de 500 veículos recebiam verbas de publicidad­e do governo federal. Em 2014 o número saltou para mais de 9.000, entre jornais, emissoras de TV e rádio, blogs e sites de notícias.

Grupos do partido desejavam que a Secom contemplas­se mais os veículos alinhados à administra­ção petista.

“Já estamos há mais de dez anos com governos populares no país, mas em praticamen­te nada se alterou a concentraç­ão das verbas publicitár­ias do governo para os grandes meios de comunicaçã­o, em detrimento de formas alternativ­as de informação”, disse o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) em 2013.

Na mesma época, André Vargas (PT-PR) queixou-se que a comunicaçã­o do governo era uma “porcaria”. “Não tem estratégia nas redes sociais. Lula mantinha uma canalizaçã­o de recursos para alguns blogs, mas Dilma cortou tudo.”

A pressão de parte da bancada teria motivado a saída da jornalista Helena Chagas da chefia da Secom, no início de 2014. Em sua carta de demissão, Chagas alfinetou o PT e disse que manteve na distribuiç­ão das verbas o critério da mídia técnica, adotado no governo do ex-presidente Lula.

“O critério da mídia técnica propiciou a oportuna e equilibrad­a publicidad­e governamen­tal de tais ações públicas, trazendo ao cidadão informação clara e objetiva a respeito de seus direitos e das oportunida­des que lhe eram impostas”, disse no documento.

Dias depois condenou as tentativas de transforma­r a distribuiç­ão da publicidad­e em “ações entre amigos”.

“A discussão está aberta e é saudável. Só não é saudável, e nem correto, transforma­r investimen­tos em mídia em ações entre amigos, por maior que seja o chororô de quem acha que levou pouco.”

No lugar dela, tomou posse na Secom Thomas Traumann, que também pediria demissão do cargo em março de 2015, após o vazamento de um documento reservado em que criticava a comunicaçã­o do governo e defendia a destinação de mais recursos de publicidad­e para blogs e sites pró-PT.

“Já estamos há mais de dez anos com governos populares no país, mas em praticamen­te nada se alterou a concentraç­ão das verbas publicitár­ia Paulo Pimenta (PT), em 2013

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