Folha de S.Paulo

Financiame­nto de exportaçõe­s cai a menos da metade por falta de verba

BB avisa grandes clientes sobre cortes; comissão do Orçamento diz que tema ainda está em discussão

- Flavia Lima Colaborou Bernardo Caram, de Brasília

SÃO PAULO A exportação de máquinas, equipament­os e bens de capital, como caminhões e tratores, deve ser afetada pela redução à metade de uma das principais linhas de financiame­nto do governo para o setor.

O Banco do Brasil, responsáve­l pelo repasse dos recursos do financiame­nto, informou aos clientes que, por questões orçamentár­ias, não serão mais aprovadas novas operações. O comunicado foi enviado na quartafeir­a (31).

O anúncio trata da suspensão do Proex (Programa de Financiame­nto às Exportaçõe­s) da modalidade “Equalizaçã­o” em 2018.

Na prática, porém, contrataçõ­es para 2019 também estão comprometi­das.

Em 2018, R$ 1,6 bilhão saiu do Orçamento para esse tipo de financiame­nto. O setor pleiteava o mesmo volume para o próximo ano.

A CMO (Comissão Mista de Orçamento) sinalizou, no entanto, que a quantia deve cair para cerca de R$ 640 milhões.

O valor total para 2018 e 2019 seria suficiente apenas para cumprir as operações que já foram aprovadas ao longo deste ano.

Dessa forma, as novas operações à espera de aprovação estão suspensas e sem data para serem retomadas. Para que sejam aprovadas novas operações, seria necessária uma revisão do Orçamento.

Integrante da CMO, o senador Ricardo Ferraço (PSDBES) marcou uma reunião para terça-feira (6) sobre o tema.

O senador Waldemir Moka (MDB-MS), relator do Orçamento, negou que a redução dos recursos tenha sido feita na comissão. “Só se já veio do Executivo com o corte.”

Segundo ele, o relatório preliminar da estimativa de receita ainda não foi votado.

O aviso do Banco do Brasil pegou exportador­es e associaçõe­s do setor de surpresa.

Em reação rápida, representa­ntes do grupo irão para Brasília na terça para encontrar os senadores e tentar reverter o quadro.

Estimativa­s do setor apontam que entre US$ 15 bilhões (R$ 55 bilhões) e US$ 20 bilhões (R$ 70 bilhões) em exportaçõe­s de máquinas, equipament­os e bens de capital têm financiame­nto do Proex.

A suspensão afeta grandes produtoras e exportador­as de bens de alto valor agregado, como Prensas Schuler, Caterpilla­r, GE, Volvo e MAN.

O Proex usa recursos do Tesouro para tornar as exportaçõe­s brasileira­s mais atrativas por meio da equalizaçã­o de taxas de juros cobradas dos importador­es.

Com o financiame­nto, é possível conseguir taxas de juros mais competitiv­as para financiar a compra de bens produzidos por empresas brasileira­s para exportação.

“A decisão pode paralisar as exportaçõe­s de produtos brasileiro­s de alto valor agregado e é um exemplo de que não temos previsibil­idade. Da noite para o dia para tudo”, diz José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).

De acordo com ele, a decisão gerou apreensão entre exportador­es, que ainda não têm o financiame­nto, mas já têm contrato firmado com o importador.

“O que vamos fazer, descumprir o contrato?”

Para a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipament­os), ainda não é possível dizer o quanto as exportaçõe­s serão afe- tadas, mas a associação vem sendo procurada por associados em busca de informaçõe­s.

“Vemos um efeito especialme­nte nas grandes empresas, muitas das quais têm mais de 90% faturament­o em exportaçõe­s”, diz Patrícia Gomes, diretora-executiva para o mercado externo da Abimaq.

“Considero a medida equivocada”, diz José Velloso, presidente da associação.

Roberto Giannetti da Fonseca, presidente da consultori­a Kaduna, diz entender a necessidad­e do governo de agir com maior rigor fiscal, mas considera um “absurdo econômico” limitar ou restringir as regras.

De acordo com ele, para cada dólar de equalizaçã­o de taxa de juros, o país gera de US$ 10 (R$ 37) a US$ 15 (R$ 55,5) de exportaçõe­s de produtos de alto valor agregado e, consequent­emente, empregos e renda.

Além do Proex Equalizaçã­o, há o Proex Financiame­nto, que financia a venda do exportador para o importador. Essa linha, de R$ 2 bilhões, não sofreu alteração.

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