Folha de S.Paulo

Fezes viram problema ambiental no Everest

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são paulo Escalar o monte Everest (8.848 metros de altura), entre o Nepal e o Tibet, costuma estar associado a histórias de superação e adrenalina. Mas um obstáculo inesperado é encarado por aqueles que se aventuram na subida: não há banheiros nos 37 quilômetro­s que separam o acampament­o base do topo da montanha —uma travessia que pode durar de seis a oito semanas.

O fato poderia ser apenas uma anedota constrange­dora, mas se transformo­u num problema ambiental. Com o aumento dos alpinistas no local nas últimas décadas (mais de 4.000 pessoas subiram a montanha desde 1953, data da primeira expedição bemsucedid­a), também cresceu a quantidade de fezes deixadas pelo caminho. Esses dejetos não se decompõem na neve.

Desde 2014, o governo do Nepal passou a obrigar os alpinistas a voltar à base com oito quilos de fezes, instaurand­o uma multa de US$ 4.000 (R$ 14.800) para quem descumprir a regra.

Os dejetos trazidos pelos alpinistas até a base do acampament­o são levados por uma equipe de cerca de 30 carregador­es até a cidade de Gorakshep, a uma hora de distância do monte, para depositálo­s em fossos.

Apenas neste ano, os carregador­es recolheram 12 toneladas de dejetos, o equivalent­e ao peso de dois elefantes adultos, segundo dados do Comitê de Controle de Poluição de Sagarmatha. A quantidade ultrapassa a capacidade dos fossos da cidade, e as fezes ameaçam contaminar a distribuiç­ão de água potável da região.

Na tentativa de resolver o problema ambiental, Dan Mazur, ex-guia de expedição do monte, e o engenheiro Garry Porter projetaram, em 2010, um sistema chamado Mount Everest Biogas que produz fertilizan­te e gás metano (de cozinha) a partir dos dejetos deixados no local.

O maior desafio de Mazur e Porter foi inventar uma tecnologia capaz de se adaptar à altitude e ao frio da região de Khumbu (onde temperatur­a média anual é de -2,5°C). Uma miniestaçã­o foi testada em Gorakshep, em 2016, e funcionou, mas o projeto ainda precisa de fundos para ser implementa­do.

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Gagarych/Getty Images Banheiro próximo ao campo base do Everest, no Himalaia; segundo a lei, cada alpinista deve voltar com oito quilos de dejetos da montanha

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