Mostra de cinema dá visibilidade a atores e diretores negros
Cine Negro - Um Ato Político começa nesta segunda (5) com ‘Infiltrado na Klan’, de Spike Lee na programação
“Qual é a diferença entre os personagens de Hollywood e os dos meus filmes? Nos meus, eles são reais.”
Dita anos atrás, a frase do diretor americano Spike Lee (“Faça a Coisa Certa”, “Malcom X”) volta a fazer sentido em “Infiltrado na Klan”.
Seu filme mais recente rendeu ao cineasta o Grande Prêmio do Júri no último Festival de Cannes, em maio deste ano.
O filme sobre um detetive negro disposto a combater a organização racista Ku Klux Klan é um das atrações da mostra Cinema Negro - Um Ato Político, que começa nesta segunda (5).
O evento integra as celebrações dos 25 anos do Espaço Itaú de Cinema, na rua Augusta, em São Paulo. As produções serão exibidas ao longo desta semana, sempre às 19h.
De acordo com Adhemar Oliveira, diretor de programação da rede, o objetivo é dar visibilidade aos novos filmes de diretores e atores negros para que possam promover a reflexão do público.
A mostra é composta por produções do Brasil e dos EUA. “Temporada”, do mineiro André Novais, abre o evento nesta segunda. O longa conquistou cinco prêmios no último Festival de Brasília, incluindo o de melhor filme.
As demais produções nacionais são “Correndo Atrás”, do paulista Jefferson De, e “Café com Canela”, de Glenda Nicácio e Ary Rosa.
Além de Spike Lee, o cinema negro dos Estados Unidos é representado por “As Viúvas”, de Steve McQueen, vencedor do Oscar de melhor filme por “12 Anos de Escravidão” (2013). Também será exibido “Corra!”, de Jordan Peele.
Mostra Cinema Negro
Espaço Itaú de Cinema - rua Augusta, 1475, São Paulo. Ingr.: R$ 20. Sessões às 19h. www.itaucinemas.com.br
CRÍTICA Temporada **** *
Direção: André Novais Oliveira. Com: Grace Passô, Russo APR, Hélio Ricardo, Rejane Faria. 113 min. 14 anos.
André Novais desponta como um dos diretores notáveis do novo cinema mineiro.
Seu primeiro longa, “Ela Volta na Quinta” (2015), já havia sido bem recebido pela crítica.
Em “Temporada”, Novais dá um passo adiante em um percurso promissor. Custa crer que ele tenha só 34 anos.
O arranjo minimalista expõe sutilezas de toda a ordem. Vai se frustrar, portanto, quem busca um cinema de sobressaltos. Sob uma camada de acontecimentos triviais, há uma outra, rica em sinais com emoção contida e humor despretensioso.
“Temporada” acompanha Juliana (Grace Passô), que deixa a pequena Itaúna, no interior de Minas, para trabalhar no combate a endemias em Contagem, cidade que integra a Grande Belo Horizonte.
Seu marido não a acompanha na mudança, e Juliana não sabe quando irá encontrá-lo.
O fato de Oliveira ser um diretor negro merece reflexão à parte. Em um país racista como o nosso, poderia se esperar dele uma obra de denúncia explícita contra a discriminação, o que seria, claro, uma iniciativa legítima.
No filme, porém, está nas entrelinhas o preconceito enfrentado pelos personagens negros. Ao seu modo, revelando a eloquência escondida nos sussurros, o diretor discute a injustiça racial.
O filme já valeria pela interpretação de Grace Passô. Atriz de carreira no teatro, ela está soberba como protagonista.