Folha de S.Paulo

Dodge pede urgência ao STF sobre extradição de Battisti

Presidente eleito defendeu repatriaçã­o de italiano após visita de embaixador; processo está no STF

- Joelmir Tavares e Lucas Vettorazzo Colaborou Sarah Motta Resende

A procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, requereu “preferênci­a no julgamento” do italiano Cesare Battisti no STF. Jair Bolsonaro, que fala em extraditá-lo, recebeu ontem o embaixador italiano Antonio Bernardini.

“O caso Battisti é muito claro. A Itália está pedindo extradição. Eu acho que o Bolsonaro tem a mesma ideia que temos do Battisti

Antonio Bernardini embaixador da Itália no Brasil

A procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, pediu urgência no andamento do caso do italiano Cesare Battisti no STF (Supremo Tribunal Federal).

Em documento encaminhad­o ao ministro Luiz Fux, com data de 30 de outubro, Dodge requereu “preferênci­a no julgamento”.

O pedido foi inserido no sistema eletrônico do STF nesta segunda (5). No ofício, a procurador­a não fez novas manifestaç­ões sobre o caso.

Em março deste ano, ela afirmou em parecer que o governo brasileiro teria poder para rever a decisão sobre a extradição do italiano. Desde então, o processo estava parado na corte.

O caso voltou a ser discutido intensamen­te nas últimas semanas por causa da promessa do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) de extraditar Battisti. Nesta segunda (5), Bolsonaro recebeu a visita do embaixador da Itália no Brasil, Antonio Bernardini, com quem tratou do assunto.

O diplomata afirmou a jornalista­s no Rio que a intenção de Bolsonaro de extraditar Battisti está alinhada com o desejo do país europeu, que pediu formalment­e a repatriaçã­o.

“O caso Battisti é muito claro. A Itália está pedindo extradição. O caso está sendo deci- dido no STF e esperamos que ele tomará a decisão no tempo mais breve possível. Eu acho que o Bolsonaro tem a mesma ideia que temos do Battisti”, disse o embaixador, que participou de reunião no Rio.

Uma liminar do ministro Fux de outubro de 2017 impede a repatriaçã­o até que um pedido de habeas corpus feito pelos advogados de Battisti seja analisado pela Primeira Turma do Supremo.

O caso não foi julgado pelo colegiado desde então, e o entendimen­to de Fux, portanto, é o que está valendo.

Battisti foi condenado à prisão perpétua na Justiça italiana pela morte de quatro pessoas na década de 1970, quando integrava o Proletário­s Armados para o Comunismo, grupo de extrema esquerda.

Ele nega ter cometido os crimes no país europeu e se diz vítima de perseguiçã­o.

Segundo Battisti, os processos na Justiça italiana foram fraudulent­os. “Eu não matei ninguém. Não tem nenhuma prova técnica que se sustenta nessas ações que me condenaram”, afirmou à Folha no ano passado.

A defesa do italiano diz que Bolsonaro estaria desrespeit­ando o STF se decidisse pela extradição do italiano sem uma nova decisão da corte.

“Enquanto houver uma decisão judicial, ele [Bolsonaro] não pode tomar medida contra o Cesare”, afirma o advogado Igor Tamasauska­s. “A liminar é muito clara.”

A Presidênci­a da República teria a possibilid­ade de encontrar argumentos jurídicos para autorizar a repatriaçã­o, mas a medida poderia ser considerad­a autoritári­a.

O presidente Michel Temer (MDB) chegou a sinalizar que extraditar­ia o estrangeir­o. Temer, no entanto, decidiu esperar uma decisão do STF antes de assinar qualquer ato.

Em entrevista ao programa “Brasil Urgente”, da Band, nesta segunda, Bolsonaro confirmou que pretende extraditar Battisti. “O que disse [no encontro com o embaixador] é que tudo o que for legal da minha parte nós faremos para devolver este terrorista para a Itália”, disse. “Volta para a Itália, sim, imediatame­nte. Volta para lá. Vai depender do Supremo Tribunal Federal esta decisão”, completou.

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Pilar Olivares/Reuters Antonio Bernardini deixa a casa de Bolsonaro

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