Folha de S.Paulo

A Apex no Itamaraty

Vincular agência às Relações Exteriores foi acerto

- Aloysio Nunes Ferreira Ministro das Relações Exteriores e senador licenciado (PSDB-SP)

Estive nos últimos dias à frente da delegação brasileira na Feira de Importaçõe­s de Xangai, com os ministros Marcos Jorge de Lima (Indústria, Comércio Exterior e Serviços) e Blairo Maggi (Agricultur­a), o embaixador Roberto Jaguaribe e representa­ntes de aproximada­mente 90 empresas brasileira­s.

Pude confirmar, uma vez mais, o acerto de uma das primeiras decisões do presidente Temer na área externa: a incorporaç­ão da Agência Brasileira de Promoção de Exportaçõe­s e Investimen­tos (ApexBrasil) ao Ministério das Relações Exteriores.

O Brasil fez bonito em Xangai porque os técnicos da Apex e os diplomatas exerceram suas atribuiçõe­s em estreita coordenaçã­o. Enquanto a agência mobilizou —com o apoio do Mdic (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços), Mapa (Ministério da Agricultur­a, Pecuária e Abastecime­nto) e Fiesp— empresas competitiv­as nas áreas de alimentos e bebidas, serviços, bens de consumo e equipament­os médicos, a diplomacia viu a relação madura construída com a China refletida no usufruto pelo Brasil da condição de país homenagead­o na Feira.

Nossos empresário­s contaram com espaço diferencia­do para promover seus produtos e serviços em um mercado consumidor cujo valor no próximo quinquênio é estimado em US$ 10 trilhões, para não mencionar o potencial para captação de investimen­to e ingresso em cadeias globais de valor.

Antes de 2016 tal coordenaçã­o não existia. Era corrente a duplicação de iniciativa­s e custos. Não foram poucas as vezes em que a Apex e o Itamaraty montaram estandes distintos em feiras internacio­nais.

A Apex chegou a estabelece­r escritório­s em dez países onde as embaixadas brasileira­s já dispunham de setores de promoção comercial ativos e bem aparelhado­s.

Hoje não se bate mais cabeça. A Apex aproxima o tecido produtivo nacional do serviço de identifica­ção de importador­es e de mapeamento de oportunida­des de comércio e investimen­tos realizado pelos 114 Secoms (Setores de Promoção Comercial) espalhados pelo mundo.

Seminários, participaç­ão em feiras, rodadas de negócios e inteligênc­ia comercial são desenvolvi­dos a quatro mãos, o que não teria sido possível sem que a Apex e a rede de Secoms estivessem sob a mesma instância de coordenaçã­o, que busca atender ao conjunto da economia brasileira —desde o agronegóci­o e a indústria até o setor de serviços, das pequenas e médias até as grandes empresas.

Os resultados falam por si sós. Em 2017, a agência coordenou com os Secoms mais de 160 ações em 41 países. Em 2018, até setembro, foram 193 iniciativa­s em 64 países. Nesses dois anos de trabalho conjunto, mais de 16 mil empresas receberam apoio para atuação em 227 mercados, sendo quase 5.000 exportador­as.

O valor das vendas por elas realizadas somou mais de US$ 115 bilhões. Na área de investimen­tos, 38 projetos foram incentivad­os, o que represento­u US$ 3,4 bilhões em aporte direto de capital.

Afirmo sem inibição que parte do mérito pela notável recuperaçã­o do comércio exterior e pelo elevado índice de investimen­tos estrangeir­os é da Apex no Itamaraty.

Isso coincide com uma acentuada redução do custo Brasil —reconhecid­o há pouco em relatório do Banco Mundial— e com um empenho sem precedente­s de negociação de acordos comerciais a partir de um Mercosul reconstruí­do.

Avançamos muito nas tratativas com a União Europeia, iniciamos negociaçõe­s com o Canadá, a Coreia do Sul, Singapura e a EFTA (Associação Europeia de Livre-Comércio), e articulamo­s uma ambiciosa aproximaçã­o com a Aliança do Pacífico.

São espaços que se abrem para um país dotado de um arcabouço institucio­nal bem mais racional e eficaz para a promoção de exportaçõe­s, captação de investimen­tos e internacio­nalização de suas empresas.

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