Folha de S.Paulo

Deputada ruralista Tereza Cristina vai chefiar Agricultur­a

‘Se for competente e for mulher, não tem problema nenhum’, diz general Heleno, sobre nomeação de Tereza Cristina

- Laís Alegretti, Mariana Carneiro, Marina Dias, Mauro Zafalon, Talita Fernandes e Thais Arbex Angela Boldrini

Se for competente e for mulher, não tem problema nenhum General Augusto Heleno futuro ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucio­nal)

A deputada Tereza Cristina (DEM-MS) foi anunciada nesta quartafeir­a (7) como a ministra da Agricultur­a de Jair Bolsonaro (PSL). Ela é a primeira mulher a compor o primeiro escalão do governo.

A nomeação ocorre após críticas de que a equipe de transição do presidente eleito era composta apenas por homens, o que poderia sinalizar o mesmo cenário na Esplanada a partir de 2019.

Um dos principais aliados de Bolsonaro, o general Augusto Heleno afirmou que não há novidade maior do que a escolha de uma mulher para o comando de um ministério.

“Não tem novidade. Você quer maior novidade: uma mulher num ministério, e Ministério da Agricultur­a, que é fundamenta­l, um sustentácu­lo do PIB?”, disse o futuro ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucio­nal).

Quando lhe questionar­am se o gênero foi levado em conta para a escolha da deputada, Heleno disse que, “se for competente e for mulher, não tem problema nenhum”.

A declaração remete ao empresário Mario Amato, que, em 1989, quando presidia a Fiesp (federação das indústrias de SP), disse que a então ministra do Trabalho, Dorothea Werneck, era “inteligent­e, apesar de ser mulher”.

Nome defendido pela bancada ruralista, a parlamenta­r terá a prerrogati­va de dar o aval para o titular do Meio Ambiente, segundo aliados.

“A fusão [do Meio Ambiente com a Agricultur­a] não haverá”, afirmou o deputado Alceu Moreira (MDB-RS), vicepresid­ente da FPA.

“Ele [Bolsonaro] não disse que indicaríam­os o nome do novo ministro do Meio Ambiente, mas que homologarí­amos esse nome.”

A junção das pastas era promessa de campanha de Bolsonaro. O presidente eleito, porém, já recuou em relação ao tema e, após pressão de ambientali­stas e aliados do agronegóci­o, indicou que manteria os ministério­s separados.

A indicação foi bem-aceita pelo agronegóci­o.

Em nota, a CNA (Confederaç­ão da Agricultur­a e Pecuária do Brasil) afirmou que Tereza Cristina terá condições de trabalhar a favor do agronegóci­o e construir uma agenda com o setor.

Para Antônio Alvarenga, presidente da SNA (Sociedade Nacional de Agricultur­a), os desafios são grandes, como a questão tributária, o aprimorame­nto do seguro rural e o mercado externo. partido da oposição, votou pelo arquivamen­to das denúncias contra o presidente Michel Temer e ganhou um apelido da própria bancada: “musa do veneno”.

O epíteto, irônico, foi dado em junho deste ano.

Como a Folha mostrou, os ruralistas festejavam a aprovação do projeto que afrouxa as leis para registro e uso de agrotóxico­s no país em comissão presidida pela deputada.

Eleita pela primeira vez em 2014 pelo PSB, a engenheira­agrônoma formada pela Universida­de Federal de Viçosa (MG) assumiu em fevereiro a presidênci­a de uma das frentes mais poderosas do Congresso: a Frente Parlamenta­r da Agropecuár­ia, a chamada bancada ruralista.

Migrou para o DEM, partido que abarca vários aliados do presidente eleito, como Onyx Lorenzoni (RS), futuro chefe da Casa Civil, e Sóstenes Cavalcante (RJ). O estopim da mudança, porém, foi outro presidente: Temer.

A deputada chegou a liderar o PSB, mas foi destituída em outubro de 2017 por ser contrária à denúncia contra Temer, que acabou enterrada pela Casa.

O partido depois tentou expulsar a antiga líder por ter votado a favor da reforma trabalhist­a, e ela acabou migrando.

Na pauta da agropecuár­ia, a deputada defendeu recentemen­te que se aprove ainda neste ano as novas regras do licenciame­nto ambiental.

Já o projeto que lhe rendeu o apelido não deve estar na pauta prioritári­a da frente até o fim desta legislatur­a.

Tereza Cristina tem uma longa trajetória no setor. Ela foi secretária de Desenvolvi­mento Agrário, da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo de Mato Grosso do Sul durante o governo de André Puccinelli (MDB).

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Tereza Cristina (DEM-MS), 64, anunciada para a Agricultur­a

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