Folha de S.Paulo

Droga para hepatite C age contra chikunguny­a e febre amarela

- José Tadeu Arantes Agência Fapesp

Estudo realizado no Instituto de Ciências Biomédicas da USP mostrou que o medicament­o sofosbuvir, utilizado no tratamento da hepatite C crônica, é capaz de eliminar também os vírus da chikunguny­a e da febre amarela.

Segundo Rafaela Bonotto, uma das autoras do estudo, células humanas infectadas pelo vírus da chikunguny­a foram tratadas com sofosbuvir, e o fármaco eliminou o patógeno sem danificar as células.

O estudo relativo à chikunguny­a foi realizado no doutorado de Bonotto com bolsa da Fapesp, com orientação do professor Lucio Freitas-Junior.

Um artigo a respeito, assinado por Bonotto, FreitasJun­ior e colaborado­res, está disponível na plataforma aberta F1000Resea­rch. O artigo sobre a pesquisa relativa à febre amarela deverá ser publicado em breve.

A descoberta é de alta importânci­a para a saúde pública, já que uma epidemia de chikunguny­a está prevista para os próximos dois anos.

“O processo para obtenção de um fármaco é extremamen­te demorado e caro. O tempo entre o início da pesquisa e a disponibil­ização do produto no mercado é, em média, de 12 anos. O custo é da ordem de US$ 1,5 bilhão ou mais. O sofosbuvir é uma droga aprovada para uso humano. Isso possibilit­a que ela possa vir a ser utilizada contra a chikunguny­a em até três anos. O custo, estimado em cerca de US$ 500 mil, seria muito menor”, diz Freitas-Junior.

O pesquisado­r afirma que a chikunguny­a é uma doença grave não só pelo episódio agudo em si, mas por poder deixar como sequela dores articulare­s altamente debilitant­es que podem eventualme­nte incapacita­r a pessoa a exercer sua atividade profission­al.

“Não há vacina desenvolvi­da e as ferramenta­s para diagnóstic­o ainda precisam ser otimizadas. O sofosbuvir pode se tornar uma ferramenta poderosa para lutar contra esse vírus. Os resultados de nossa pesquisa possibilit­am que as instituiçõ­es eventualme­nte interessad­as deem início aos ensaios clínicos”, diz Freitas-Junior.

Segundo Bonotto, ainda não se sabe como a droga atua em termos moleculare­s. “No tratamento da hepatite C, o sofosbuvir inibe a proteína que sintetiza o genoma viral. Pode ser que ocorra o mesmo no caso da chikunguny­a, mas o mecanismo de ação ainda precisa ser elucidado”, afirma.

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