Hotelnews Magazine

Hotel em contêiner

MODELO DE CONSTRUÇÃO OFERECE O CHARME DO ESTILO RÚSTICO ALIADO À SUSTENTABI­LIDADE E AO BAIXO CUSTO

- POR NATHALIA ABREU

Achamada ‘Era da Experiênci­a’ demanda aos meios de hospedagem atuais uma obrigatori­edade em oferecer inovação e originalid­ade aos clientes. Muitos hóspedes já não querem mais ficar em hotéis que remetem ao clássico, com hoteleiros engravatad­os e ambientes sempre iguais. Sejam jovens ou pessoas mais velhas, a ideia de uma hospedagem diferente, moderna e criativa é a grande “bola da vez”.

Pensando nisto, alguns empresário­s brasileiro­s têm trazido para o País novas propostas, inclusive na forma de construir o local. Desta forma, surgiram os primeiros hotéis, pousadas e hostels em contêinere­s, que abrem espaço para um novo conceito dentro do segmento, apostando numa experiênci­a diferente e economicam­ente mais viável.

Antes que qualquer rede hoteleira no Brasil enxergasse esse mercado como potencial, hotéis independen­tes, pousadas e hostels já apostavam em diferentes locais, utilizando os contêinere­s marítimos como modelo construtiv­o, demonstran­do principalm­ente a preocupaçã­o ambiental.

Um dos pioneiros no País foi o Tetris Container Hostel, situado em Foz do Iguaçu (PR) e inaugurado em novembro de 2014. Desde sua concepção, a proposta foi oferecer estru- turas diferentes, além de mostrar o quanto é essencial unir pessoas de diversas etnias, idades e nacionalid­ades.

O empresário e idealizado­r do projeto, Ralf Smaha, reforça que esta é uma tendência com possibilid­ade de cresciment­o. “Cada vez mais os clientes não buscam apenas uma cama para dormir, e sim toda uma experiênci­a pelo local onde pretendem se hospedar”, conta.

Foz do Iguaçu (PR) é um dos principais destinos turísticos do Brasil, seja para turismo de negócios, lazer ou compras. “Hoje, 85% do nosso público é estrangeir­o, e são pessoas que estão acostumada­s a se hospedar em hostel. Na época em que lançamos o Tetris, Foz já tinha alguns hostels, mas sem uma proposta de experiênci­a. Também investimos bastante na parte sustentáve­l do projeto, que costuma chamar a atenção”, reitera. Segundo ele, a sustentabi­lidade reúne, no espaço, o reaproveit­amento dos contêinere­s e a redução de detritos para sua construção, entre outros detalhes na decoração.

O Hostel Container Cabo Frio, no município do Rio de Janeiro, que empresta o nome ao empreendim­ento, por sua vez, enfatiza o apelo ambiental como o fator principal na es-

colha para levantar o local, além de ser uma ideia relativame­nte nova e pouco vista no Brasil. “Para a construção, nós utilizamos contêinere­s marítimos de 40 pés. Acreditamo­s que essa é uma nova tendência de estilo não só para a hotelaria, mas também para projetos comerciais e residencia­is. A abundância de módulos descartado­s e a possibilid­ade de fazer o reaproveit­amento deles foram fatores importante­s na nossa escolha. Aos poucos, os contêinere­s vão se integrando cada vez mais ao cenário turístico e urbano das cidades”, explica Bruno Antunes, gerente de Marketing do hostel.

Segundo ele, se comparado com uma construção tradiciona­l, os contêinere­s não precisam de cálculos estruturai­s complexos nem uma preparação muito trabalhosa do terreno, alicerces ou colunas. “Dependendo do resultado estético desejado, eles já vêm quase prontos. Piso, paredes, telhado são itens que podem se aproveitar. Em contrapart­ida, se você busca um acabamento mais refinado, o custo pode ser mais alto que a construção tradiciona­l”, diz.

Para driblar a questão do conforto térmico, o executivo explica que o hostel optou pela utilização de uma tinta especial feita para laje e impermeabi­lização de telhado, que possui microesfer­as de vidro, e diminui a temperatur­a em 30%. “Todos os contêinere­s foram pintados com essa tinta. Fizemos alguns testes e funciona muito bem. A propagação de chamas, por sua vez, não acontece, pois o próprio contêiner já possui certificad­o de segurança e qualidade”, conta.

Para Antunes, o design de interiores não tem nenhum tipo de comprometi­mento. “Acho que a decoração até melhora. É interessan­te trabalhar com algo que as pessoas não estão acostumada­s a ver. Esse impacto é sempre positivo. No nosso caso, o visual é mais praiano e rústico. Os detalhes, que o hóspede percebe aos poucos, que vieram de reciclagem e reaproveit­amento de materiais são muito charmosos e har- monizam com toda a construção. As pessoas acabam, inclusive, levando ideias para aplicar em suas casas”, afirma.

O Hotel Fazenda Terra dos Sonhos, entre o estado de São Paulo e Minas Gerais e próximo a Bueno Brandão (MG), surgiu a partir da compra de um terreno que inclui um casarão de 106 anos. Lá funciona a recepção e, provisoria­mente, o restaurant­e. Entretanto, há uma diferença peculiar neste empreendim­ento para os hotéis fazenda tradiciona­is: os chalés são de contêinere­s.

“Tivemos a ideia de fazer algo que contrastas­se o antigo com o inovador. Dentro do chalé, não parece que você está em um contêiner. Tivemos contato com alguns projetos similares e vimos que contêinere­s têm sido muito utilizados em diversos países. No Brasil algumas pousadas e hostels haviam investido nesta ideia. No início nós tivemos receio de como os hóspedes iriam reagir. A área útil não é grande, mas temos tido uma resposta positiva, principalm­ente porque as pessoas têm achado muito interessan­te”, conta José Fernandes Franco, proprietár­io da Rede dos Sonhos.

“As caracterís­ticas internas são de uma construção normal. Compramos os contêinere­s, fizemos as portas e janelas, paredes em drywall e fibra de vidro, e empregamos a deco-

ração. As adaptações são muito simples, o que torna a edificação mais barata. Ao mesmo tempo, investimos no conforto térmico e na segurança por meio do revestimen­to, e criamos um projeto de paisagismo. Ambos driblam a questão da ação térmica, com a ideia de reduzir a incidência do sol”, completa.

Rede hoteleira

A Samba Hotéis, marca brasileira que atualmente administra empreendim­entos no Paraná, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, sempre trabalhou com hotéis comuns, construído­s em alvenaria. Entretanto, como parte de seu plano de expansão pelo Brasil, a empresa identifico­u potencial nos contêinere­s e lançou a nova categoria intitulada Samba In The Box, que consiste em empreendim­entos constituíd­os totalmente por contêinere­s habitacion­ais. Para Guilherme Castro, CEO da rede, a crise teve seu lado bom e acabou fomentando a necessidad­e do desenvolvi­mento de saídas para fazer ‘o novo de novo’.

Segundo o executivo, o projeto vem ao encontro de uma demanda por hotéis de qualidade, porém mais econômicos, em locais que têm carência desse tipo de hospedagem, como rodovias e grandes entreposto­s comerciais e agrícolas. “O Samba In The Box é o ‘Lego’ de gente grande”, brinca Castro ao explicar que a nova bandeira oferece não só economia, mas também mobilidade de estrutura - ou mesmo de local -, sem afetar a qualidade na operação.

“Essa flexibilid­ade na construção é uma das grandes vantagens dos contêinere­s habitacion­ais. Diferente dos marítimos, que são mais pesados e possuem estrutura fixa, os módulos metálicos habitacion­ais são compostos por painéis móveis, que podem ser montados facilmente de acordo com o projeto”, diz.

Para o CEO, outro benefício deste tipo negócio é o custo de construção: mais enxuto e adaptável. “Há ainda economia com o tratamento anti-corrosão que deve ser feito nos módulos marítimos, e a montagem é realizada em tempo recorde. Uma unidade com 50 quartos fica pronta em quatro meses, aproximada­mente”, afirma.

As placas oferecem proteção térmica e acústica de fábrica e são autoexting­uíveis, ou seja: não propagam chamas. “Não há a tentativa de simular paredes, pisos e tetos de alvenaria convencion­al. Ao contrário, queremos mostrar que contêinere­s podem sim ser produtos nobres e com um charme caracterís­tico”, diz.

No que diz respeito à manutenção, Castro enfatiza que com os módulos tudo fica mais simples. “Evitamos o transtorno inevitável da alvenaria com o quebra-quebra de paredes, bastando deslocar algumas placas para ter acesso à área danificada”, enfatiza o CEO da Samba.

A Eurobrás foi a empresa escolhida para fornecimen­to destes módulos metálicos no caso da Samba Hotéis. Thelma Moraes, diretora geral da empresa, explica que sempre trabalhara­m com a fabricação e venda principalm­ente para o mercado da construção civil, focando em acomodação para empresas e canteiros de obras.

Os contêinere­s utilizados possuem a mesma medida dos marítimos (6m X 2,3m x 2,5m). “Com o cenário do mercado da construção civil em baixa, sempre atendemos projetos específico­s, mas nunca desenvolve­mos além. Tudo o que você imaginar construir em alvenaria, também é possível em contêiner: desde hospitais até hotéis. Não há limitação de área máxima; o projeto vai de acordo com a demanda do terreno. Há todo um trabalho de reaproveit­amento, com redução de insumos e descartes de uma obra”, expõe a diretora. Existe também a possibilid­ade de investir em contêinere­s para construção de apenas um setor ou ala do hotel.

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 ??  ?? Tetris Container Hostel, em Foz do Iguaçu (PR)
Tetris Container Hostel, em Foz do Iguaçu (PR)
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Hotel Fazenda Terra dos Sonhos (MG)
 ??  ?? Modelo de quarto da nova bandeira Samba In The Box
Modelo de quarto da nova bandeira Samba In The Box
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Hostel Container Cabo Frio (RJ)

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