Hotel em contêiner
MODELO DE CONSTRUÇÃO OFERECE O CHARME DO ESTILO RÚSTICO ALIADO À SUSTENTABILIDADE E AO BAIXO CUSTO
Achamada ‘Era da Experiência’ demanda aos meios de hospedagem atuais uma obrigatoriedade em oferecer inovação e originalidade aos clientes. Muitos hóspedes já não querem mais ficar em hotéis que remetem ao clássico, com hoteleiros engravatados e ambientes sempre iguais. Sejam jovens ou pessoas mais velhas, a ideia de uma hospedagem diferente, moderna e criativa é a grande “bola da vez”.
Pensando nisto, alguns empresários brasileiros têm trazido para o País novas propostas, inclusive na forma de construir o local. Desta forma, surgiram os primeiros hotéis, pousadas e hostels em contêineres, que abrem espaço para um novo conceito dentro do segmento, apostando numa experiência diferente e economicamente mais viável.
Antes que qualquer rede hoteleira no Brasil enxergasse esse mercado como potencial, hotéis independentes, pousadas e hostels já apostavam em diferentes locais, utilizando os contêineres marítimos como modelo construtivo, demonstrando principalmente a preocupação ambiental.
Um dos pioneiros no País foi o Tetris Container Hostel, situado em Foz do Iguaçu (PR) e inaugurado em novembro de 2014. Desde sua concepção, a proposta foi oferecer estru- turas diferentes, além de mostrar o quanto é essencial unir pessoas de diversas etnias, idades e nacionalidades.
O empresário e idealizador do projeto, Ralf Smaha, reforça que esta é uma tendência com possibilidade de crescimento. “Cada vez mais os clientes não buscam apenas uma cama para dormir, e sim toda uma experiência pelo local onde pretendem se hospedar”, conta.
Foz do Iguaçu (PR) é um dos principais destinos turísticos do Brasil, seja para turismo de negócios, lazer ou compras. “Hoje, 85% do nosso público é estrangeiro, e são pessoas que estão acostumadas a se hospedar em hostel. Na época em que lançamos o Tetris, Foz já tinha alguns hostels, mas sem uma proposta de experiência. Também investimos bastante na parte sustentável do projeto, que costuma chamar a atenção”, reitera. Segundo ele, a sustentabilidade reúne, no espaço, o reaproveitamento dos contêineres e a redução de detritos para sua construção, entre outros detalhes na decoração.
O Hostel Container Cabo Frio, no município do Rio de Janeiro, que empresta o nome ao empreendimento, por sua vez, enfatiza o apelo ambiental como o fator principal na es-
colha para levantar o local, além de ser uma ideia relativamente nova e pouco vista no Brasil. “Para a construção, nós utilizamos contêineres marítimos de 40 pés. Acreditamos que essa é uma nova tendência de estilo não só para a hotelaria, mas também para projetos comerciais e residenciais. A abundância de módulos descartados e a possibilidade de fazer o reaproveitamento deles foram fatores importantes na nossa escolha. Aos poucos, os contêineres vão se integrando cada vez mais ao cenário turístico e urbano das cidades”, explica Bruno Antunes, gerente de Marketing do hostel.
Segundo ele, se comparado com uma construção tradicional, os contêineres não precisam de cálculos estruturais complexos nem uma preparação muito trabalhosa do terreno, alicerces ou colunas. “Dependendo do resultado estético desejado, eles já vêm quase prontos. Piso, paredes, telhado são itens que podem se aproveitar. Em contrapartida, se você busca um acabamento mais refinado, o custo pode ser mais alto que a construção tradicional”, diz.
Para driblar a questão do conforto térmico, o executivo explica que o hostel optou pela utilização de uma tinta especial feita para laje e impermeabilização de telhado, que possui microesferas de vidro, e diminui a temperatura em 30%. “Todos os contêineres foram pintados com essa tinta. Fizemos alguns testes e funciona muito bem. A propagação de chamas, por sua vez, não acontece, pois o próprio contêiner já possui certificado de segurança e qualidade”, conta.
Para Antunes, o design de interiores não tem nenhum tipo de comprometimento. “Acho que a decoração até melhora. É interessante trabalhar com algo que as pessoas não estão acostumadas a ver. Esse impacto é sempre positivo. No nosso caso, o visual é mais praiano e rústico. Os detalhes, que o hóspede percebe aos poucos, que vieram de reciclagem e reaproveitamento de materiais são muito charmosos e har- monizam com toda a construção. As pessoas acabam, inclusive, levando ideias para aplicar em suas casas”, afirma.
O Hotel Fazenda Terra dos Sonhos, entre o estado de São Paulo e Minas Gerais e próximo a Bueno Brandão (MG), surgiu a partir da compra de um terreno que inclui um casarão de 106 anos. Lá funciona a recepção e, provisoriamente, o restaurante. Entretanto, há uma diferença peculiar neste empreendimento para os hotéis fazenda tradicionais: os chalés são de contêineres.
“Tivemos a ideia de fazer algo que contrastasse o antigo com o inovador. Dentro do chalé, não parece que você está em um contêiner. Tivemos contato com alguns projetos similares e vimos que contêineres têm sido muito utilizados em diversos países. No Brasil algumas pousadas e hostels haviam investido nesta ideia. No início nós tivemos receio de como os hóspedes iriam reagir. A área útil não é grande, mas temos tido uma resposta positiva, principalmente porque as pessoas têm achado muito interessante”, conta José Fernandes Franco, proprietário da Rede dos Sonhos.
“As características internas são de uma construção normal. Compramos os contêineres, fizemos as portas e janelas, paredes em drywall e fibra de vidro, e empregamos a deco-
ração. As adaptações são muito simples, o que torna a edificação mais barata. Ao mesmo tempo, investimos no conforto térmico e na segurança por meio do revestimento, e criamos um projeto de paisagismo. Ambos driblam a questão da ação térmica, com a ideia de reduzir a incidência do sol”, completa.
Rede hoteleira
A Samba Hotéis, marca brasileira que atualmente administra empreendimentos no Paraná, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, sempre trabalhou com hotéis comuns, construídos em alvenaria. Entretanto, como parte de seu plano de expansão pelo Brasil, a empresa identificou potencial nos contêineres e lançou a nova categoria intitulada Samba In The Box, que consiste em empreendimentos constituídos totalmente por contêineres habitacionais. Para Guilherme Castro, CEO da rede, a crise teve seu lado bom e acabou fomentando a necessidade do desenvolvimento de saídas para fazer ‘o novo de novo’.
Segundo o executivo, o projeto vem ao encontro de uma demanda por hotéis de qualidade, porém mais econômicos, em locais que têm carência desse tipo de hospedagem, como rodovias e grandes entrepostos comerciais e agrícolas. “O Samba In The Box é o ‘Lego’ de gente grande”, brinca Castro ao explicar que a nova bandeira oferece não só economia, mas também mobilidade de estrutura - ou mesmo de local -, sem afetar a qualidade na operação.
“Essa flexibilidade na construção é uma das grandes vantagens dos contêineres habitacionais. Diferente dos marítimos, que são mais pesados e possuem estrutura fixa, os módulos metálicos habitacionais são compostos por painéis móveis, que podem ser montados facilmente de acordo com o projeto”, diz.
Para o CEO, outro benefício deste tipo negócio é o custo de construção: mais enxuto e adaptável. “Há ainda economia com o tratamento anti-corrosão que deve ser feito nos módulos marítimos, e a montagem é realizada em tempo recorde. Uma unidade com 50 quartos fica pronta em quatro meses, aproximadamente”, afirma.
As placas oferecem proteção térmica e acústica de fábrica e são autoextinguíveis, ou seja: não propagam chamas. “Não há a tentativa de simular paredes, pisos e tetos de alvenaria convencional. Ao contrário, queremos mostrar que contêineres podem sim ser produtos nobres e com um charme característico”, diz.
No que diz respeito à manutenção, Castro enfatiza que com os módulos tudo fica mais simples. “Evitamos o transtorno inevitável da alvenaria com o quebra-quebra de paredes, bastando deslocar algumas placas para ter acesso à área danificada”, enfatiza o CEO da Samba.
A Eurobrás foi a empresa escolhida para fornecimento destes módulos metálicos no caso da Samba Hotéis. Thelma Moraes, diretora geral da empresa, explica que sempre trabalharam com a fabricação e venda principalmente para o mercado da construção civil, focando em acomodação para empresas e canteiros de obras.
Os contêineres utilizados possuem a mesma medida dos marítimos (6m X 2,3m x 2,5m). “Com o cenário do mercado da construção civil em baixa, sempre atendemos projetos específicos, mas nunca desenvolvemos além. Tudo o que você imaginar construir em alvenaria, também é possível em contêiner: desde hospitais até hotéis. Não há limitação de área máxima; o projeto vai de acordo com a demanda do terreno. Há todo um trabalho de reaproveitamento, com redução de insumos e descartes de uma obra”, expõe a diretora. Existe também a possibilidade de investir em contêineres para construção de apenas um setor ou ala do hotel.