Febre amarela: mutação do vírus pode explicar surto
Pesquisadores da Fiocruz analisam macacos e mosquitos no Rio e Espírito Santo. Número de casos da doença no estado sobe para 14, com cinco mortes este ano
Pesquis adores do Instituto Oswaldo Cruz (I OC) descobrir amoito mutações genéticas no vírus da febre amarela silvestre que circula nos estados do R iode Janeiro e Espírito Santo. As variações nunca haviam sido observadas antes na literatura científica mundial. Os estudos mapearam o genoma viral de dois macacos bugios do Espírito Santo e de um de Macaé (RJ), além de mosquitos do Espírito Santo, e podem ajudara entender o surgimento do surto da doença e contribuir com estratégias de vigilância sanitária no futuro. Ontem a Secretaria de Estado de Saúde anunciou o segundo caso da doença em Macaé, desta vez, com morte. Com outra morte registrada em Silva Jardim, aumentou para cinco o número de óbitos pela doença no estado, que já tem 14 casos este ano.
Para Myrna Bonaldo, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus da Fio cruz, anova descobertaé importante para entender o que aconteceu .“Há vários outros componentes, desde a baixa cobertura vacinal, até desastres naturais e alteraçõesclimáticas ”, explicou. Sete mutações do vírus foram encontradas nas proteínas mais importantes para a replicaçãoviral—ouseja,épossível que as alterações forneçam uma vantagem seletiva nas capacidades de infecção e disseminação.
Myrna garantiu que a vacina aindaéa melhor proteção, já que as mutações encontradas não alteram proteínas centrais para funcionamento da imunização .“A vacina protege contra vários genótipos d ife rentes.Éa mesma usada há 80 anos”. Macaé, Silva Jardim e outros 53 dos municípios prioritários já têm doses suficientes da vacina. No estado, 4,9 milhões de pessoas foram imunizadas.
O último sequenciamento genético da febre amarela era de 2010, da Venezuela. Isso indica que a mutação ocorreu em algum momento até 2017. Agora, os próximos passos incluem analisar amostras de diferentes períodos de tempo e de regiões do país para definir a história natural do vírus e traçar estratégias de combate. Em fevereiro, oI OC colocou o genoma em um banco de dados mundial, o GeneBank, para acelerar as descobertas sobre o assunto. “O conhecimento dessa variação do vírus precisa de apoio financeiro e de novas amostras, de preferência desde o ano 2000”, disse Myrna.