Avenida Brasil, do trânsito e da insegurança
Em obras desde 2015, a via, campeã de delitos, tem nova interdição a partir de hoje
Antes das obras do BRT da Avenida Brasil, o gráfico Carlos Alberto da Silva, 62 anos, podia sair às 6h30 de casa, em Anchieta, que chegava tranquilamente às 8h ao trabalho, em Xerém. Agora, dorme menos e tem que sair às 5h15 para não se atrasar. “Espero que esse congestionamento termine logo”, disse, debaixo de sol a pino, enquanto subia uma passarela. O perrengue diário, que se arrasta desde janeiro de 2015, deve durar pelo menos mais dez meses, já que a previsão para conclusão do primeiro trecho do corredor de ônibus, entre Deodoro e Caju, é julho de 2018. Enquanto isso, nova fase de interdição começa hoje: quatro faixas da pista central, sentido Centro, serão totalmente fechadas, em um trecho de 4,5 quilômetros.
No carro, no coletivo ou no ponto de ônibus, a sensação é que os engarrafamentos parecem mesmo ser a maior queixa dos cariocas que cruzam diariamente a maior via expressa do Rio. Mas os problemas da avenida que ostenta o nome do país não se resumem aos transtornos das obras. Um raio-x realizado pelo DIA, ao longo de seus 58 quilômetros, mostra outros desafios históricos.
Quando o assunto é trânsito, o trecho bloqueado a partir de hoje (entre a passarela 14, na Penha, e o Trevo das Missões, em Cordovil) tende a ser o mais afetado. Na mesma altura, sentido Zona Oeste, a pista central, que estava interditada, ficou pronta e será liberada também hoje. Até que os motoristas se acostumem com as mudanças, são previstos impactos nos desvios das passarelas 19 e 18, de manhã, sentido Centro, e da passarela 14, à tarde, no sentido contrário. Da passarela 9, em Ramos, até a 14, na Penha, continuam interditados 2,9 quilômetros da pista central para a Zona Oeste.
Rodeada por 37 comunidades, a Brasil é a via expressa do Rio com maior quantidade de ocorrências criminosas, em comparação com as estatísticas isoladas das linhas Vermelha e Amarela e da Transolímpica. Quem afirma é o Batalhão de Policiamento em Vias Especiais (BPVE), que, por questões estratégicas, não destrincha esses números. O Instituto de Segurança Pública também não divulga dados específicos sobre a via.
Como o DIA divulgou na série ‘Passageiros da Agonia’, em janeiro, os 3,7 quilômetros que margeiam o Complexo da Maré, entre as passarelas 5 e 9, lideram o ranking de assaltos a ônibus do estado, com 1.633 vítimas no ano passado.
A major Fabiana Silva de Souza, subcomandante do BPVE, enumera possíveis motivos para a Brasil ser a via expressa com mais delitos. “Extensão; proximidade de comunidades; infinidade de acesso e rotas de fugas; acessos a rodovias estaduais; concentração de pontos de ônibus e circulação de pessoas; fluxo de veículos e livre circulação de caminhões.”
Segundo a major, roubo de rua (que abrange roubos a coletivos, a transeuntes e de celular) é o delito de maior impacto do Caju ao Trevo das Missões. É justamente o trecho em que se concentra o aumento da população em pontos de ônibus. Entre o Trevo das Missões e Santa Cruz, o crime principal é roubo de veículos.
O técnico em segurança do trabalho Jorge Feitosa, 35, mantém a atenção redobrada enquanto espera o ônibus para Nova Iguaçu na entrada da Vila do João. “Nunca fui assaltado aqui, mas colegas que andam em ônibus de uma porta só, tipo frescões, relatam que esses são os mais assaltados”, declarou.
O BPVE possui postos no Caju, em Parada de Lucas e em Santa Cruz, mas recebe reforço de outros batalhões. A major Fabiana atribui a queda de prisões e apreensões na via em 2017 (ver infográfico) ao reforço que havia para a Olimpíada no ano passado. De janeiro a setembro, o número de presos caiu de 371, em 2016, para 275, este ano. Fuzis apreendidos passaram de cinco para um.
Obras para o BRT Transbrasil, de Deodoro ao Caju, terminam em julho do ano que vem
Proximidade de comunidades, extensão, rotas de fuga e acessos a rodovias são motivos para a via ter tantos delitos FABIANA SILVA, subcomandante BPVE