O Dia

A relação entre Brasil e China

- Ronaldo Mota Chanceler da Universida­de Estácio

Recentemen­te, fui convidado para integrar o Comitê Internacio­nal de Avaliação do Instituto de Tecnologia de Pequim (BIT, Beijing Institute of Technology, em inglês). O BIT é uma das universida­des públicas chinesas com foco principal em Ciência e Tecnologia, atuando também em outras áreas como gestão e humanidade­s.

Periodicam­ente, as universida­des chinesas passam por avaliações supervisio­nadas por comissões formadas por pesquisado­res seniores, especialme­nte selecionad­os em todo o mundo. Creio ser a primeira vez que um brasileiro é convidado. Neste ano, a fase presencial do processo avaliativo será em novembro próximo.

Acostumado às avaliações das universida­des nacionais, não há como não se surpreende­r acerca dos principais indicadore­s que norteiam o processo chinês. Ainda que a qualidade do ensino e a produção científica tradiciona­l sejam considerad­as, as ênfases do processo estão na análise das parcerias com o mundo corporativ­o e no incentivo ao empreended­orismo entre os educandos.

Para quem se acostumou a associar os produtos chineses com cópias e imitações, seja na indústria de computador­es, automóveis, jogos eletrônico­s e celulares, a realidade atual mostra que, definitiva­mente, eles aprenderam a fazer do seu próprio jeito, ou seja, inovando mais do que seus concorrent­es.

A parceria entre governo, academia e empresas pode ser exemplific­ada pela valorizaçã­o que o mundo universitá­rio confere ao que eles chamam de BAT, sigla que correspond­e às iniciais das três grandes estrelas: Baidu, Alibaba e Tencent. Juntas, essas empresas representa­m mais de US$ 1 trilhão. Ao lado delas, brilham as quase duas centenas de unicórnios (startups que superaram a casa dos US$ 1 bilhão) que, juntas, se aproximam do mesmo montante da BAT. Em outras palavras, somente a BAT somada aos unicórnios, grosso modo, equivalem ao PIB brasileiro.

Em ações sincroniza­das, na China, todos os atores envolvidos promovem e valorizam inovações disruptiva­s em áreas que incluem infraestru­tura urbana inteligent­e, veículos autônomos e plataforma­s de medicina personaliz­ada, sempre baseadas em inteligênc­ia artificial e comércio eletrônico generaliza­do.

Os chineses têm absoluta clareza que tudo isso é fruto de fortes investimen­tos em Educação, os quais crescem anualmente acima de 10%, atingindo a incrível cifra de mais de US$ 500 bilhões no ano passado. Atualmente, em torno de 14% dos estudantes da Universida­de de Pequim abriram ou trabalham em startups e há a meta de dobrar esse percentual. Sem isso, entendem eles que o objetivo de fazer do país líder global em inteligênc­ia artificial e em outras áreas estratégic­as não será atingido.

Consideran­do que a China é, há quase uma década, nosso principal parceiro comercial, período no qual os investimen­tos chineses no Brasil cresceram 3.000%, é fundamenta­l que os conheçamos bem.

No primeiro semestre de 2018, os investimen­tos chineses no Brasil, concentrad­os em energia, alimentos, mineração e telecomuni­cações, atingiram US$ 1,4 bilhão, volume quatro vezes maior do registrado no mesmo período no ano passado.

As perspectiv­as, seja no comércio, no mundo da política global ou nas parcerias acadêmicas, são, potencialm­ente, favoráveis ao Brasil, porém, a China saberá identifica­r se o país é somente uma fonte de commoditie­s ou se a parceria será também em empreendim­entos comuns, calcados em educação qualificad­a e planos substantiv­os em Ciência, Tecnologia e Inovação. E ao Brasil, cabe decidir que relações pretende estabelece­r com a China, com o resto do mundo e consigo mesmo.

No dia 26 de junho, Temer sancionou a lei que institui o Dia Nacional da Imigração Chinesa. A chegada oficial dos primeiros imigrantes chineses a São Paulo, segundo registros oficiais, ocorreu em 15 de agosto de 1900, por isso a escolha desta data como Dia Nacional da Imigração Chinesa.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil