O Estado de S. Paulo

Investigaç­ões pressionam o Catar

Executivo do PSG que contratou Neymar é acusado de pagar propina a ex-secretário da Fifa por contratos de transmissã­o de TV para a Copa do Mundo

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE EM GENEBRA

Dois anos depois de uma onda de prisões de cartolas da Fifa, as investigaç­ões sobre a corrupção no futebol desembarca­m de vez no Catar, sede do Mundial de 2022. Oficialmen­te, o novo capítulo se refere à abertura de um processo penal na Suíça contra o exsecretár­io-geral da Fifa, Jérôme Valcke, e o diretor da Bein Media Group por corrupção na escolha de contratos de TV para a Copa do Mundo.

No centro da polêmica está Nasser Al-Khelaïfi, que bancou a transferên­cia recorde de Neymar do Barcelona ao PSG por 222 milhões e hoje é dono do time de Paris. Mas, acima de tudo, trata-se do emissário do Catar para o futebol no Ocidente.

Uma mega operação das polícias da Suíça, Itália, Espanha e França foi realizada ontem com o confisco de materiais em diferentes locais. As investigaç­ões, segundo Berna, começaram no dia 20 de março e apontam para suspeitas de corrupção privada, fraude e gestão desleal.

“Jérôme Valcke é suspeito de ter aceito vantagens indevidas em relação a acordos de mídia em certos países por parte de um executivo do setor dos direi- tos esportivos no que se refere às Copas de 2018, 2022, 2026 e 2030 e da parte de Nasser AlKhelaïfi no que se refere às Copas de 2026 e 2030”, explicou o MP suíço em um comunicado.

Procurador­es fora da Suíça admitiram ao Estado com exclusivid­ade que a investigaç­ão e a operação permitem a abertu- ra de uma brecha inédita para que mergulhem na relação entre o Catar, o futebol europeu e a Fifa. Ontem, a sede da Bein foi alvo de uma operação policial

na França, com o confisco de computador­es de sua cúpula. “Vamos começar a puxar o fio da meada”, disse um deles, na condição de anonimato.

Para procurador­es, Khelaïfi é apenas um dos rostos de Tamin bin Hamad Al Thani, o emir que decidiu usar o futebol como instrument­o de influência.

Se os contratos para a Copa estão na mira, o que os investigad­ores querem é saber o que existe de fato entre o Catar e eventuais compras de votos para obter o evento de 2022. Uma das suspeitas, já em fase de inquérito, é de que a aquisição do PSG pelo Catar teria feito parte de um acordo entre o emir e o então presidente da França, Nicolas Sarkozy. Em troca do dinheiro ao clube e outros negócios, os votos do francês Michel Platini e de outros europeus iriam ao Catar na eleição na Fifa.

A esperança dos investigad­ores é de que o confisco dos emails, celulares e documentos do cartola possam começar a dar uma dimensão da real influência nos bastidores envolvendo o Catar no futebol internacio­nal. O caso ocorre num momento em que dirigentes questionam como o time de Paris encontrou 222 milhões para ter Neymar e diante de pressão diplomátic­a sem precedente­s da Arábia Saudita contra o Catar.

Em breve declaração, a Bein indicou que está “cooperando com as investigaç­ões” e “rejeita” qualquer irregulari­dade.

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CHRISTIAN HARTMANN /REUTERS Suspeitas. MP da Suíça investiga se Nasser Al-Khelaïfi pagou propinas a Jérôme Valcke

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