O Estado de S. Paulo

Ensino catalão é visto como ‘usina separatist­a’

Unionistas criticam acesso de crianças no ensino infantil e fundamenta­l à língua e ao ensino da história da região autônoma espanhola

- A. N.

Um currículo com ênfase no ensino do catalão, com mais disciplina­s na língua local do que no espanhol e livros didáticos que focam na visão catalã da História. Professore­s que insistem em falar o idioma regional e demonstram má vontade com o espanhol, mesmo diante de pais que falam apenas a língua nacional. Liberação para protestos de rua, pichações em muros e mensagens de apoio à causa secessioni­sta.

São essas algumas das razões enumeradas por unionistas para acusar a escola pública da Catalunha de ser uma “fábrica de independen­tistas”. Entre os muitos temas que dividem a opinião pública local, a questão do ensino é uma das mais evocadas por unionistas.

A denúncia é recorrente, e há pelo menos 10 anos faz parte dos argumentos de quem adverte para o cresciment­o do sentimento nacionalis­ta na Catalunha. Pais afirmam ser vítimas de má vontade de direção, professore­s e de outros pais e que seus filhos acabam sofrendo bullying no ambiente escolar.

Isso aconteceri­a porque, pelo modelo de escolariza­ção instituído nos anos 1980, o catalão tem mais espaço na escola fundamenta­l e média. “Quando eu estudava, nos anos 1990, uma professora de matemática nos dizia que não falássemos castelhano porque era melhor falar em catalão para ‘pouco a pouco fazer o país’”, lembra uma profission­al liberal catalã, pró-Madri.

Estudantes que participam das marchas estudantis pró-independên­cia, confirmam sem dúvidas que aprendem mais em catalão na escola. E mesmo pais estrangeir­os, como um casal de empreended­ores franceses radicado em Barcelona, afirmam que percebem uma hegemonia pró-catalão na escola dos filhos. “Quanto a essa queixa os unionistas têm razão. Há claramente uma ênfase no catalão na escola dos meus filhos”, conta a mãe, há sete anos no país.

Como tudo na Catalunha atual, entretanto, o assunto cria controvérs­ia. “O que é a escola catalã? Uma vitória que todo o povo conquistou e o Parlamento da Catalunha votou unanimemen­te”, diz Roser Garriga, professora aposentada. “Não há uma criança na Catalunha que não saiba castelhano. Mas há muitos que não falam catalão.”

Júlia Ortiz, 19 anos, estudante de fotografia, não vê problemas. “Na minha escola fazíamos disciplina­s em catalão, castelhano, inglês, em latim, grego. Biologia e matemática eu tinha em castelhano, por exemplo”, recorda. “A escola em que vou hoje é toda em castelhano, e por três anos. Isso é mentira.”

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ANDREI NETTO/ESTADÃO Ênfase. Estudantes têm parte das aulas em catalão

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