O Estado de S. Paulo

Com o Switch, Nintendo vira o jogo

Reset. Design inovador e facilidade de uso, aliados a jogos de ícones como Mario e Zelda, ajudam empresa a se reerguer no mercado de videogames; para analistas, nova versão do console surpreende­u, mas precisa atingir um público maior para se provar um suc

- Bruno Capelas

Quem joga, sabe: juntar moedas é um dos maiores segredos para conseguir uma nova vida nos jogos do encanador bigodudo Mario. Juntar US$ 1 bilhão, por sua vez, pode mostrar como a criadora do personagem, a Nintendo, está conseguind­o se reerguer. Depois de amargar cinco anos fracos, três deles registrand­o prejuízo, a tradiciona­l companhia japonesa de videogames pela primeira vez projeta um lucro de US$ 1,06 bilhão no atual ano fiscal, quase sete vezes o registrado em 2016. O segredo por trás da retomada tem nome: Switch, seu novo console.

Na última semana, a companhia divulgou que vendeu 7,6 milhões de unidades do aparelho em seis meses após seu lançamento. A meta, até março do ano que vem, quando se encerra seu ano fiscal, é vender 14 milhões de consoles – mais do que o Wii U conseguiu em quatro anos e meio no mercado. Por enquanto, o Switch não é vendido oficialmen­te no Brasil, mas pode ser encontrado no varejo popular por até R$ 2 mil; nos EUA, ele custa US$ 299.

Os números, porém, descrevem apenas uma parte do processo pelo qual a empresa passou nos últimos tempos. Após o fracasso do Wii U, a Nintendo se abriu para o mercado de smartphone­s, emplacando sucessos como Pokémon Go e Super Mario Run, e percebeu que podia voltar a inovar. “Com o Switch, a Nintendo voltou a ser legal”, resume André Pase, professor da Pontifícia Universida­de Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

Versátil. Parte disso se deve ao design do Switch (ver gráfico ao lado). “Vejo muita gente jogando o Switch na rua, como se fosse um portátil, mas ele também se dá bem na TV. É muito animador ver um videogame fazer isso”, avalia Ed Boon, criador do clássico game de luta Mortal Kombat – que ainda não ganhou uma versão para o console da Nintendo.

Além disso, seus controles são versáteis e podem ser usados por um jogador, divididos por amigos e até mesmo usados como bastões, como no antigo Wii, o maior sucesso da história da Nintendo.

A facilidade de uso também atrai jogadores. “Vivemos numa era em que temos muita coisa para aprender, e pouco tempo. A Nintendo já percebeu isso há algum tempo”, avalia Pedro Latorre, professor de design do Instituto de Tecnologia Mauá.

Recheio. Mais do que inovação e design, é preciso ter bom conteúdo. Basta ver o exemplo do sensor de gestos Kinect, da Microsoft, que falhou por não emplacar grandes jogos.

O próprio Wii U não emplacou por conta disso, ao não ter uma sequência expressiva de lançamento­s. “O jogador só aceita pagar algumas centenas de dólares por um videogame se souber que ele vai ter bons jogos no futuro”, explica Pase.

Com o Switch, a Nintendo aprendeu a lição: logo na estreia, trouxe um novo jogo da série The Legend of Zelda. Elogiado, Breath of the Wild é apontado pelos críticos como o melhor game da temporada. O jogo já vendeu 4,7 milhões de unidades – ou seja, dois em cada três donos de um Switch possui uma cópia.

Depois, a empresa enfileirou grandes lançamento­s mensais. Entre eles, títulos como Mario Kart 8 Deluxe, ARMS, Splatoon 2 e Super Mario Odyssey – este último, lançado na semana passada, é uma nova aventura do encanador e pode roubar de Zelda o troféu de “jogo do ano”.

“O Switch pode não ter tantos jogos, mas eles têm um jogo relevante por mês, o que sustenta a atenção dos fãs”, diz o analista Mat Piscatella, da consultori­a americana NPD Group.

Além disso, a Nintendo tem sido hábil em costurar parcerias. Em seu primeiro ano, o Switch vai receber versões dos populares jogos de esporte FIFA 18 e NBA 2K18, bem como títulos do porte de Doom, Skyrim e Wolfenstei­n II, da Bethesda, ou Minecraft, da Microsoft. A Ubisoft também criou um jogo que mistura os coelhos Rabbids com Mario, que gerou um maiores hits do Switch.

Segunda fase. Ainda é cedo, no entanto, para que a Nintendo cante vitória. A japonesa teve problemas para atender a demanda pelo Switch nos primeiros meses. “A meta de vender 14 milhões de aparelhos em um ano mostra que eles estão resolvendo isso, mas é bom ficar atento”, diz Piscatella.

Para os especialis­tas ouvidos pelo Estado, a empresa também precisa manter o ritmo de lançamento­s de jogos e atingir o mercado de massa. “Por enquanto, o Switch só falou com os jogadores tradiciona­is”, diz o analista. “Ele precisa ser aquele videogame que você leva para a casa da sua avó e ele é tão bacana que até ela vai querer jogar.”

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ILUSTRAÇÕE­S 3D: JONATAN SARMENTO INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO

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