O Estado de S. Paulo

TCU cobra devolução de R$ 39 bi de bancos

Somente a Caixa pode ser obrigada a devolver R$ 27 bi, no momento em que busca reforçar capital para se adequar às regras internacio­nais

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A área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) quer que os bancos públicos montem calendário­s para devolução dos recursos injetados pela União nessas instituiçõ­es. Com a medida, só a Caixa Econômica Federal – que busca alternativ­as para reforçar seu capital e evitar o descumprim­ento de regras internacio­nais de proteção a crises – pode se ver obrigada a devolver R$ 27 bilhões para o Tesouro Nacional. O TCU quer que o banco monte um calendário de restituiçã­o do dinheiro injetado pela União entre 2009 e 2013.

Banco do Brasil, Banco do Nordeste (BNB) e Banco da Amazônia (Basa) também são cobrados pelo TCU por um cronograma de devolução de outros R$ 11,6 bilhões aportados pela União entre 2010 e 2015. A informação foi antecipada pelo jornal Valor Econômico.

Caso o entendimen­to seja referendad­o pelo plenário do TCU, a devolução dos recursos pode piorar ainda mais a situação da Caixa e trazer uma dor de cabeça adicional no caso do Banco do Brasil, que poderia ter de vender ativos ou fazer uma capitaliza­ção, segundo analistas do BTG Pactual Eduardo Rosman e Thiago Kapulskis.

Assim como as emissões diretas de R$ 426 bilhões (em valores históricos) feitas pelo Tesouro para turbinar a capacidade de concessão de crédito do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), as emissões diretas de títulos para os demais bancos públicos também foram considerad­as irregulare­s pelos técnicos do TCU, pois não passaram pelo Orçamento. Além dos R$ 27 bilhões para a Caixa, foram emitidos R$ 9,6 bilhões para o Banco do Brasil, R$ 1 bilhão para o BNB e R$ 1 bilhão para o Basa.

A decisão, se ratificada pelo TCU, pode ampliar os embates entre governo e bancos públicos. Hoje, a equipe econômica trava uma batalha para que o BNDES devolva R$ 130 bilhões no ano que vem, além dos R$ 50 bilhões restituído­s este ano.

Complexa. A devolução do dinheiro pelos demais bancos, no entanto, deve ser uma operação mais complexa, segundo avaliação dos técnicos. Isso porque o Tesouro optou por fazer aportes com títulos públicos (e não dinheiro em espécie) por meio de instrument­o híbrido de capital e dívida (IHCD). Nesse caso, o tomador paga juros variáveis, mas não tem prazo para quitar o valor principal da dívida.

O maior impacto dessas devoluções deve ser sentido pela Caixa, que tem negociado uma operação de socorro para manter sua oferta de créditos sem precisar de uma capitaliza­ção do Tesouro. Nas contas dos analistas do BTG, o chamado índice de Basileia (que mostra quanto de capital dos sócios o banco deve ter em relação aos recursos emprestado­s) cairia de 9,0% para 4,3%. Pelas novas regras aprovadas internacio­nalmente, o índice mínimo terá de ser de 7% a 9,5% em 2019.

Se o governo não quiser alterar a situação atual, principalm­ente pela delicada situação da Caixa, uma opção é o Tesouro fazer operações combinadas: a devolução do dinheiro e um novo IHCD, no mesmo valor. Ou seja, o governo poderia desfazer a operação original, emitir títulos no mercado, colocar a previsão no Orçamento e então efetuar o novo instrument­o híbrido de capital e dívida em favor dos bancos.

O Tesouro ressaltou que o TCU ainda analisa a questão, mas disse que o trabalho da corte de contas caminha no sentido de evitar que erros passados se repitam. “O Tesouro está confiante nesse trabalho, que orientará sobre o modo correto de proceder daqui para a frente.” A Caixa informou que não vai comentar. O Banco do Nordeste disse que espera comunicaçã­o oficial. BB e Basa não respondera­m.

 ?? PILAR OLIVARES/REUTERS-20/8/2014 ?? Socorro. Caixa busca manter oferta de créditos sem precisar de capitaliza­ção do Tesouro
PILAR OLIVARES/REUTERS-20/8/2014 Socorro. Caixa busca manter oferta de créditos sem precisar de capitaliza­ção do Tesouro

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