O Estado de S. Paulo

Boas vibrações contra as paranoias

Após a pausa ‘não programada’ de três anos, Jack Johnson volta à ativa com novo disco e traz família ao Brasil

- Pedro Antunes

Quando Jack Johnson terminou a turnê do disco From Here to Now to You (2013), pegou um avião em direção ao Havaí e não pretendia sair de lá tão cedo. Não por motivos musicais, pelo menos. “Todo o fim de turnê, penso que será a última vez”, explica o cantor e compositor ao telefone. Líder absoluto do movimento “praia, violão e canções doces” que tomou de assalto as rádios na entrada deste século, Johnson leva a leveza com a qual canta e toca seu instrument­o para a sua vida. Prefere sair para surfar – é amigo de Kelly Slater, 11 vezes campeão Liga Mundial de Surfe –, gosta de ver o dia passar próximo do mar, da mulher e dos três filhos. Usa da fama que conquistou para enviar mensagens sobre a importânci­a de cuidar do meio ambiente.

No tempo ausente, contudo, entre uma onda e outra, Johnson viu a ascensão de Donald Trump, o atual presidente dos Estados Unidos, cujos discursos incluem coisas como “o aqueciment­o global é uma invenção dos chineses”, rivais comerciais e industriai­s dos norte-americanos. Isso mexeu com o havaiano. A resposta saiu com My Mind Is for Sale, a primeira música a ser divulgada do mais recente disco dele, All the Light Above It Too, lançado em setembro. “Eu não ligo para a paranoia de ‘nós contra eles’”, diz um verso da canção, outra citação clara ao sujeito sentado no Salão Oval da Casa Branca. Com o álbum, Johnson saiu em turnê – e está de volta ao Brasil. Depois de se apresentar no Rio, no domingo, 5, ele toca no Espaço das Américas, em São Paulo, nesta terça-feira, 7. Confira o batepapo com o Estado:

Como tem sido voltar à rotina das turnês?

Olha, posso dizer que estamos nos divertindo bastante. Minha família está sempre comigo e isso é ótimo. Gostamos de visitar diferentes lugares e países. Meus filhos adoram o Brasil, gostamos muito de visitar essas lojas de percussão. E temos muitos amigos brasileiro­s que moram no Havaí. Então, estamos bastante familiariz­ados.

Foram três anos distante dos palcos, isso muda algo?

Acho que isso é um pouco confuso no início, entende? Eu amo mostrar as minhas músicas, mas o início é sempre meio estranho, depois vou me acostumand­o com o público de novo. E daí, quando volto para casa, demoro para me acostumar a não ter mais a energia da plateia comigo.

E como determina que é hora de descansar? Hora de voltar? Acho que só deixo tudo acontecer. Todas as vezes que termino uma turnê, eu penso que foi a última. Quero dizer, é ótimo rodar o mundo, mas exige muito planejamen­to. Quando volto para casa, eu realmente sinto como é bom estar lá. Senti (que a pausa) era algo que eu deveria fazer. De repente, comecei a ir para o estúdio de novo, fazer novas músicas. E cá estamos, de novo na estrada, de novo com um disco.

Foi um processo longo escrever esse disco enquanto o mundo mudava desse jeito?

Acho que faço as coisas no meu tempo. Ia para a minha garagem, gravava algo, tocava um pouco de vibrafone. Daí, parava para fazer uma viagem de surfe com o Kelly Slater, depois voltava (risos). Eu tento não ficar tanto tempo dentro do estúdio.

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MORGAN MAASSEN Na dele. Músico alternava viagens para surfar e gravação do álbum
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UNIVERSAL; R$ 26 (E DIGITAL)
JACK JOHNSON ‘ALL THE LIGHT ABOVE IT TOO’ UNIVERSAL; R$ 26 (E DIGITAL)

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