Entre muros
Independentemente da religião, turistas podem visitar a maioria dos marcos religiosos da Cidade Velha. E haja tempo para explorar milhares de anos de história nesse 1 quilômetro quadrado de área
Há uma certa surpresa ao primeiro olhar sobre Jerusalém. Placas em três idiomas – hebraico, árabe, inglês. Soldados e policiais fortemente armados. Crianças e mulheres judias e muçulmanas garimpando os melhores preços. Comerciantes barganhando o preço de seus souvenirs com turistas. Estabelecido por resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948, Israel é um país jovem, com múltiplas identidades. E Jerusalém, a capital formal, sintetiza essa vibrante mistura que é nada e tudo ao mesmo tempo.
Me explico: Jerusalém abriga uma série de edifícios e de histórias que a tornam sagrada para as três principais religiões monoteístas do Ocidente. Ao mesmo tempo em que é capital do Estado de Israel, se divide como lar do terceiro ponto mais importante para os muçulmanos no planeta e epicentro da fé cristã. A ideia de Terra Santa permeia cada milímetro de todo o território.
Existe nitidamente uma cisão entre as fés. Por outro lado, a Cidade Velha de Jerusalém é o resumo da pluralidade de crenças que coabitam um mesmo lugar em razoável harmonia. Com menos de 1 quilômetro quadrado de área, é nesse espaço cercado por muralhas, erguidas no início do século 16, que se concentram alguns dos mais emblemáticos patrimônios da humanidade da Unesco. Ao todo, oito portões ligam a parte mais nova da cidade à área histórica (mais informações na página 10).
Violência é artigo raro, mas a tensão está no ar. Infelizmente, por conta de inúmeros conflitos e atentados ao longo dos séculos, alguns sítios religiosos têm entrada vetada a praticantes de outras religiões. Porém, um único felizardo pode, com sabedoria e respeito, admirar praticamente todos os cantos singulares para judeus, muçulmanos e católicos: o turista. Com uma espécie de passe vip intrínseco à sua condição de visitante, respeitando dias e horários adequados, o viajante pode desfrutar de (quase) cada canto repleto de história e sentido religioso. É praticamente um privilégio não ser nativo.
Grupos de turistas religiosos, principalmente católicos e judeus, exercem em massa sua convicção de peregrinar aos cantos narrados em seus livros de fé. Muitos dos episódios descritos pela Torá e pela Bíblia supostamente ocorreram sobre este chão, nestas esquinas, entre estes muros. Assim, cada passo torna-se uma imersão em fatos e versões e transforma os detalhes em protagonistas.
Expertise. Contar com o repertório e a didática de um bom guia faz toda a diferença para explorar e aprender em Jerusalém. Inúmeros profissionais brasileiros residentes há anos oferecem um serviço de excelente qualidade e entendem bem nossos anseios e curiosidades. Claro, há também um exército de guias estrangeiros muito competentes, afinal há um curso oficial bastante seletivo para a formação destes profissionais. Na página de informações turísticas de Israel há uma relação de guias credenciados que falam diversos idiomas – inclusive o português. Escolha em bit.ly/guiaisrael.
Um dia inteiro não é o suficiente para passar correndo por todas as principais atrações do centro antigo de Jerusalém – você merece mais do que isso. Separe ao menos um dia da sua programação para ficar livre, leve e curioso pelo centro antigo e permitir-se descobrir uma Jerusalém do seu jeito.
Muito embora a cidade guarde uma infinidade de atrativos históricos e modernos, este é um roteiro dedicado a explorar pontos emblemáticos para cada religião dentro das muralhas. Traçamos um percurso compacto pelas principais atrações histórico-religiosas, circulando pelos três principais redutos da Jerusalém antiga – os bairros judeu, árabe e cristão-armênio. Mesmo assim, uma ressalva: a melhor vista de Jerusalém continua sendo do alto do Monte das Oliveiras, fora da Cidade Velha.