Sauditas querem seus cidadãos fora do Líbano ‘o quanto antes’
Com renúncia de premiê ligado aos sauditas, país é o mais novo palco da tensão crescente entre Arábia Saudita e Irã
A Arábia Saudita recomendou ontem a seus cidadãos que deixem imediatamente, o Líbano, que vive sua pior crise em ao menos dois anos depois que o primeiro-ministro, Saad Hariri, renunciou, no sábado. Hariri estava na capital da Arábia Saudita, Riad, quando anunciou que não voltaria a seu país porque temia ser assassinado. Ele acusou a organização xiita Hezbollah de ter o controle do Líbano. O Hezbollah, um grupo armado transformado em partido político, jura lealdade ao líder do Irã.
A histórica instabilidade política no Líbano parecia ter chegado ao fim no ano passado, quando o país formou um governo de união nacional depois de 11 meses sem premiê e 2 anos sem presidente. Em 2016, o Parlamento elegeu presidente o popular Michel Aoun, cristão maronita aliado ao Hezbollah. Em troca, o lado pró-Irã apoiou a eleição de seu rival Saad Hariri, principal líder político sunita. O acordo levou a estabilidade política e bom desempenho econômico.
Mas a crescente influência do Irã na política libanesa incomodou a Arábia Saudita. Nos últimos dez anos, o Hezbollah se fortaleceu no Líbano para se tornar o principal detentor do poder no país. No ano passado, o cada vez mais poderoso príncipe herdeiro do trono saudita, Mohammed bin Salman, deixou clara sua preocupação com a influência do Hezbollah na política do Líbano. Nos últimos meses, ele tem tirado adversários do caminho para pavimentar sua chegada ao trono.
Para muitos libaneses, a Arábia Saudita é que teve papel decisivo na renúncia de Hariri. Saad é filho de Rafiki Hariri, um milionário libanês que foi premiê do Líbano e morreu assassinado em um atentado a bomba promovido pelo Hezbollah em 2005. Rafiki nasceu na Arábia Saudita e construiu fortuna com negócios imobiliários no Líbano. Hariri não apresentou nenhuma prova concreta de um complô para assassiná-lo. O secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, destacou que a renúncia ocorreu após repetidas visitas de Hariri à Arábia Saudita, afirmando que há “uma óbvia influência saudita” na decisão. Os libaneses dizem acreditar que Hariri está detido na Arábia Saudita.
Analistas dizem que a saída de Hariri pode ser uma forma de a Arábia Saudita criar o contexto para uma guerra entre Israel e o Hezbollah. Desde 2006 Israel se prepara para um possível confronto com a milícia. “É plausível acreditar que os sauditas estejam tentando mudar o foco de seu confronto com o Irã”, escreveu em sua coluna no jornal israelense Haaretz Daniel B. Shapiro, ex-embaixador dos EUA em
Israel. “A liderança saudita pode esperar mudar seu confronto com o Irã da Síria para o Líbano. Ao afastar Hariri, eles farão o Hezbollah ficar com a culpa e a responsabilidade pelos desafios do Líbano”.