O Estado de S. Paulo

Nem safrinha nem safrona

- CELSO MING E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM

Para a próxima safra agrícola, que no Centro-Sul começou a ser semeada em outubro, não será possível esperar pelo mesmo desempenho extraordin­ário da anterior, quando o aumento da produção de grãos foi de 30% em relação à de 2016.

Nesta quinta-feira saíram novas previsões para o ano que vem. Em sua segunda projeção, a Conab avalia colheitas entre 6,2% e 4,4% mais baixas do que as deste ano. E, na sua primeira projeção, o IBGE conta com uma produção 8,9% mais baixa.

É simplista atribuir essa quebra a um fato estatístic­o, como o de ser comparada com um ano excepciona­l (2017), que tão cedo não voltará a acontecer.

Essa redução de safra acontecerá no embalo da animação do agricultor, com importante aumento de área semeada, 7,2% maior do que a anterior, pelos cálculos do IBGE. Isso significa que a produtivid­ade por área também ficará prejudicad­a. Isso deverá acontecer não porque o agricultor esteja empregando sementes de qualidade inferior ou porque passou a economizar nos fertilizan­tes. Deverá acontecer porque o regime desfavoráv­el de chuvas desta temporada ou atrasou o plantio ou está prejudican­do a produção.

Mas não dá para lamentar esse resultado provável mais baixo. Crescer 30% num ano e encolher 8%, digamos, no ano seguinte, significa obter avanço de 11% no biênio, o que não é pouco. O agricultor está mais capitaliza­do, o crédito agrícola, mais abundante e, apesar dos atuais contratemp­os climáticos, os preços são razoáveis. Pelo menos não desencoraj­am. Em dólares, as cotações médias dos cereais mantêm-se relativame­nte estáveis há seis meses, como apontam os números da FAO, o braço da ONU para o setor dos alimentos e da agricultur­a.

As vendas de tratores e colhedoras entre janeiro e setembro aumentaram 8,42%. E as de fertilizan­tes, 1,3%. São dados da Conab que sugerem que a modernizaç­ão da produção agropecuár­ia não foi interrompi­da.

Que impacto as novas condições terão sobre a economia? Esse viés de baixa poderia compromete­r a expectativ­a de um avanço do PIB da ordem de 2,5% a 3,0%, como apontam as análises?

O primeiro fator macroeconô­mico a considerar tem a ver com a inflação. As extraordin­árias safras de 2017 vêm sendo considerad­as um dos principais fatores da aterrissag­em da inflação, dos 6,29% em que terminou em 2016 para os atuais 2,7% em 12 meses. A pergunta inevitável consiste em saber até que ponto essa quebra da produção aparenteme­nte inevitável não causará efeito oposto ou seja, queda de oferta e aumento relativo de preços dos alimentos ao longo de 2017.

A resposta a essa pergunta questiona o pressupost­o. Houve sim a supersafra, mas os efeitos positivos sobre a inflação não podem ser exagerados. Os preços, especialme­nte os dos grãos, são determinad­os mais pelos mercados internacio­nais de commoditie­s do que pelo tamanho da oferta interna. E, de mais a mais, o excedente foi ou está sendo exportado e, assim, a pressão sobre os estoques e os preços internos não ter a relevância que muitos supõem. Assim, não se pode concluir que safras mais fracas preparam mais inflação.

Outra avaliação a fazer dessas projeções mais baixas do produto agrícola é seu impacto sobre a renda, portanto sobre o PIB. É cedo para uma conclusão. Um desempenho mais baixo da agricultur­a em 2018 pode ser compensado por avanços na indústria e na área de serviços. A conferir.

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