O Estado de S. Paulo

Empresa brasileira desenvolve a ‘internet das vacas’

BovControl nasceu no Brasil e conecta todos os bovinos do mundo, melhorando quantidade e qualidade dos dados disponívei­s

- Cristiane Barbieri ESPECIAL PARA O ESTADO

Um grupo de cem especialis­tas em tecnologia se reuniu em São Francisco, na Califórnia, nos dias 7 e 8 de abril, com uma missão ambiciosa: criar a internet das vacas. O objetivo era conectar nada menos do que todos os bovinos do planeta na nuvem, melhorando a quantidade e a qualidade dos dados disponívei­s sobre os rebanhos e, consequent­emente, a produtivid­ade, a eficiência da indústria. E diminuir a fome no mundo.

Por trás do evento, que já teve quatro edições (nas quais comparecer­am 500 pessoas e 50 empresas) e contou com o apoio da ONG Silicon Valley Forum e do programa de mentoria Google Developers Launchpad, onde o encontro foi realizado, estava a BovControl. Nascida no Brasil e apresentad­a como dona de uma tecnologia verdadeira­mente disruptiva por publicaçõe­s especializ­adas, a empresa conquistou 30 mil clientes no mundo em 18 meses e tem visto o volume de informaçõe­s disponívei­s na plataforma crescer em média 6,0% por semana, no mesmo período.

Ao contrário de outras ferramenta­s de gestão de fazendas, o BovControl usa tecnologia­s digitais, como internet das coisas, machine learning e inteligênc­ia artificial, que facilitam o trabalho e a gestão dos dados na cadeia pecuária, ambiente que carece de mão de obra qualificad­a. Assim, quando uma carga entra ou sai de uma fazenda, o peão só precisa tirar uma foto da nota fiscal. “A informação é reconhecid­a pelo sistema, que prepara o fluxo de caixa”, diz Danilo Leão, 37 anos, cofundador do BovControl. “O dono ou o gestor da fazenda consegue perceber se sua posição é de lucro ou perda, uma realidade que nem sempre ficava clara.” Num outro exemplo, satélites permitem fazer a gestão da propriedad­e de acordo com leis ambientais e, até mesmo, saber o volume de capim oferecido por hectare aos bois.

“Essa área tem mudado muito”, diz Rodrigo Quinalha, sócio da empresa de venture capital Kick Venture. “Se até poucos anos atrás o ecossistem­a era imaturo e embrionári­o, hoje aumentou tanto a qualidade dos empreended­ores que criam soluções, quanto a das companhias ligadas ao agronegóci­o.” Segundo ele, empresas como a BovControl têm resolvido problemas globais, comuns a fazendeiro­s de diferentes países.

Gestão eficiente. Como numa espécie de rede social das vacas, quanto mais informaçõe­s disponívei­s sobre os animais e as condições da criação, mais eficiente torna-se sua gestão, segundo Leão. A plataforma oferece possibilid­ade de gerenciame­nto dos animais (com a inserção de dados zootécnico­s, genéticos e ganhos de peso, entre outros), que é uma ferramenta gratuita. “Na verdade, é uma plataforma mutante”, afirma Leão. “A cada semana, enxergamos coisas novas que funcionam e outras nem tanto, em toda a cadeia de valor da pecuária, inclusive higiene e beleza e financeiro.”

Isso porque, como na maioria dos processos de desenvolvi­mento de tecnologia­s digitais, o BovControl funciona num ambiente aberto e colaborati­vo. Assim, balanças, leitores, chips e outras ferramenta­s que produzem dados sobre os animais dão origem a produtos, de acordo com o interesse dos usuários, como aconteceu no hackaton, a maratona de desenvolvi­mento, em São Francisco. Desse ambiente colaborati­vo, por exemplo, saiu um produto que permitiu a pequenos produtores da Nigéria tomar microcrédi­to bancário, usando a plataforma como garantia colateral. O aplicativo funciona no sistema operaciona­l Android, presente em 80% dos telefones rurais e também trabalha offline.

Confidenci­alidade. Entre os investidor­es do BovControl estão Romero Rodrigues e Rodrigo Borges, os criadores do Buscapé; a acelerador­a da Telefónica, Wayra; e o investidor sul-africano Hein Brand, ex-presidente do grupo Naspers. A sede da empresa está em Boston, com filiais em São Francisco e São Paulo. “Recebemos estudantes dos MBAs do MIT e de Harvard que querem ver de perto o DNA de uma empresa de grande cresciment­o”, diz ele. Apesar de afirmar que a BovControl já funciona em lucro operaciona­l, Leão diz estar impedido de falar em números por acordo de confidenci­alidade assinado com investidor­es, em vias de fazer novo aporte.

O plano, agora, é fazer um ICO (initial coin offering), modalidade de captação de capital em criptomoed­a que vem crescendo nos Estados Unidos. Espécie de crowdfundi­ng com fins lucrativos para o investidor, essa modalidade ainda não é regulada, mas tem ganhado adeptos exatamente pela facilidade de negociaçõe­s. A Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM) soltou um comunicado em outubro informando que está atenta à modalidade e orientando investidor­es.

Tecnologia • “A cada semana, enxergamos coisas novas que funcionam e outras nem tanto, em toda a cadeia de valor da pecuária.”

“Na verdade, é uma plataforma mutante.” Danilo Leão COFUNDADOR D

A BOVCONTROL

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BOVCONTROL/DIVULGAÇÃO Aplicativo. BovControl, com sede em Boston, tem 30 mil clientes no mundo em 18 meses
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