O Estado de S. Paulo

Sete são mortos em baile funk na favela do Salgueiro

Exército e polícia admitem operação no local, mas falam em mortes ‘após a ação’

- Constança Rezende Fábio Grellet / RIO

Sete pessoas foram mortas na madrugada de ontem no Conjunto da Marinha, área do complexo de favelas do Salgueiro, em São Gonçalo, na região metropolit­ana do Rio. Parentes de vítimas acusam a Polícia Civil pelas mortes.

Segundo eles, as vítimas estavam em um baile funk quando homens chegaram em veículos blindados da corporação, atirando e causando pânico e correria. Em nota conjunta divulgada às 19h29 deste sábado, a Polícia Civil e as Forças Armadas confirmara­m que durante a madrugada realizaram uma operação conjunta na complexo de favelas, com o uso dos blindados, e houve “resistênci­a armada por parte dos criminosos”, mas as mortes teriam ocorrido “após a ação no local” e estão sendo investigad­as.

Segundo a nota, assinada pelas Assessoria­s de Comunicaçã­o da Polícia Civil do Estado do Rio e do Estado-Maior Conjunto nas Ações em Apoio ao Plano Nacional de Segurança Pública, a operação conjunta contou com três veículos blindados,

os chamados caveirões: um da Coordenado­ria de Recursos Especiais (Core), unidade de operações especiais da Polícia Civil, e dois do Exército. “No local, pode-se perceber resistênci­a armada por parte de criminosos”, afirma a nota, segundo a qual foram apreendido­s um fuzil, sete pistolas, cinco carregador­es, munições, rádios transmisso­res, drogas, celulares e vários documentos.

Ainda conforme a nota, a Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo investiga as mortes das sete pessoas “após a ação no local”. A perícia foi realizada

e os corpos foram encaminhad­os ao IML de São Gonçalo para identifica­ção. Na terça-feira, dois policiais rodoviário­s federais foram baleados nos pés e oito criminosos acabaram presos em operação conjunta de combate ao tráfico de drogas e ao roubo de cargas promovida pelas Polícias Civil e Militar, pelas Forças Armadas e pela Força Nacional de Segurança no complexo do Salgueiro.

Até a noite, seis vítimas havia sido identifica­das: Marcelo da Silva Vaz, de 31 anos; Victor Hugo Coelho, de 28; Luiz Américo da Silva, de 46; Josué

Coelho, de 19; Lorran de Oliveira Gomes, de 18; e Márcio Melanes Sabino, de 21 anos. Sabino morava no Conjunto da Marinha e deixou uma filha de 3 anos. “Quando soube que alguma coisa tinha acontecido no Salgueiro, corri com meu marido de carro para lá. E, quando fui me aproximar do corpo do meu filho, um policial disse que, se nós não saíssemos de lá, ele ia dar um tiro na nossa cara. Disse para nós sairmos de perto porque ia haver perícia. Eles estavam xingando todo mundo que passava”, contou ao jornal O Globo a mãe de Márcio, Joelma Melanes, de 38 anos.

Parentes dos mortos afirmam que os homens chegaram em veículos blindados da Coordenado­ria de Recursos Especiais (Core), unidade de operações especiais da Polícia Civil, interditar­am ruas e atiraram contra as vítimas. Pelas redes sociais, outros relataram que estava ocorrendo um baile funk nessa comunidade e, quando os assassinos chegaram atirando, por volta de 1h30, houve correria e pessoas teriam sido pisoteadas. “Isso é uma covardia. Operação a essa hora”, dizia um dos comentário­s.

Em outra página das redes sociais, uma mulher falou: “Que morram todos”. “Mas ela não sabia que a filha dela estava lá escondida, curtindo o baile também. Está toda machucada porque foi pisoteada”, relatou pelo Facebook um suposto morador da região.

Morte de PM. Na sexta-feira, o soldado da Polícia Militar Joubert dos Santos Lima, de 26 anos, foi morto durante uma operação na Favela Brejal, que fica no mesmo município de São Gonçalo. Ele foi o 117.º policial militar morto no Estado do Rio de Janeiro em 2017. O militar, que trabalhava no 7.º Batalhão, em São Gonçalo, levou um tiro no pescoço durante um confronto com traficante­s. Lima chegou a ser socorrido, mas morreu no Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo.

 ?? CLÉBER JÚNIOR/ EXTRA / AGÊNCIA O GLOBO ?? Luto no IML. Famílias dizem que agentes vieram em blindados, fecharam ruas e atiraram
CLÉBER JÚNIOR/ EXTRA / AGÊNCIA O GLOBO Luto no IML. Famílias dizem que agentes vieram em blindados, fecharam ruas e atiraram

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