O Estado de S. Paulo

Classe média brasileira voltará ao patamar de 2014 só em seis anos

Estudo aponta que avanço nos rendimento­s da classe C, pelo menos até 2023, ficará abaixo da média nacional

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Quando morava com os pais, até meados de 2015, Jennifer de Souza, de 22 anos, trabalhava porque queria ajudar a complement­ar a renda da família, de classe média, que fechava todo mês em torno de R$ 3 mil. De Mauá, região metropolit­ana de São Paulo, a jovem aproveitou as vagas que surgiram com o boom do setor de serviços e comércio. Até que veio a crise. De dois anos para cá, foram alguns bicos, nada formal. Hoje, Jennifer vive das contribuiç­ões que consegue nas ruas paulistana­s, onde, junto do marido, também pede dinheiro para ajudar famílias carentes de sua comunidade. “Isso é tudo de antes, quando agente tinha dinheiro. Hoje não compro nada”, diz ela, apontando para os acessórios de prata que usa nas mãos e pescoço.

Na casa dos pais, o momento também é outro. O pai perdeu o emprego de motorista e só a mãe trabalha, com uma pequena banca de açaí em Mauá.

Alinhado tempo de Jennifer éum ret rato da economia brasileira. Em 2015 e 2016 as classes De E engorda ramem mais de 4 milhões de famílias. Só daqui a seis anos, em 2023, aclasse média terá recuperado o patamar de participaç­ão que alcançou em 2014, quando 28% dos lares brasileiro­s tinham renda mensal de R $2.302 aR $5.552.

As projeções, realizadas pela Tendências Consultori­a Integrada, fazem parte de estudo que analisa a evolução de famílias e renda entre as classes no Brasil até 2026, a partir de dados do IBGE. Para Adriano Pitoli, um dos economista­s responsáve­is, o quadro se deve ao fim do cresciment­o econômico puxado por consumo e pelo setor de serviços. “Este avanço, que empregava principalm­ente mão de obra pouco qualificad­a, não tem mais espaço. No médio prazo, provavelme­nte haverá uma dinâmica mais concentrad­ora de renda”.

Diferença. A previsão é que a classe A recupere os rendimento­s mais rapidament­e nestes primeiros anos. Enquanto a renda total da classe C vai crescer a uma média anual de 2,3% até 2026, a velocidade entre os mais ricos será de 4,1%, e de 3% para os rendimento­s totais. Entre 2003 e 2014, a renda da classe média crescia cerca de 6% ao ano.

Educação não revertida em produtivid­ade, acesso ao crédito encurtado e fraco ambiente de negócios são listados pelo economista Marcelo Neri como

entraves à retomada do antigo cresciment­o da classe média.

Diretor da FGV Social, o economista foi responsáve­l por cunhar o termo “nova classe média”, em 2008. “Nossa situação fiscal não comporta um empurrão na classe C por meios tributário­s”, diz. Para Neri, o governo precisa enfatizar a necessidad­e das reformas e se firmar como agente regulador, e não como um órgão que repassa recursos públicos para a população.

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AMANDA PUPO Ex-classe C. Jennifer e o marido vivem das ruas

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