O Estado de S. Paulo

Um empreended­or de sucesso

Sucesso de startup criada por jovem para desenvolve­r serviços e produtos a partir de resíduos da indústria dá novo rumo a sua carreira

- Cláudio Marques

“Sou empreended­or porque fundei a empresa sozinho, fiquei cinco anos no mercado, sem investidor, sem nada”, diz Gabriel Estevam Domingos, que criou a GED Inovação, Engenharia e Tecnologia. O sucesso da empresa a levou a ter 51% de seu capital comprado pelo grupo Ambipar.

Gabriel Estevam Domingos tem 29 anos e já se tornou um nome conhecido e respeitado no segmento de sustentabi­lidade. Quando ainda era bolsista do primeiro ano do curso de engenharia ambiental da Unimes, na Baixada Santista, em 2011, criou a GED Inovação, Engenharia e Tecnologia. Logo, oito colegas de faculdade já eram seus funcionári­os nos serviços de consultori­a e criação de soluções para resolver passivos ambientais.

“Eu sou um empreended­or, porque fundei a empresa sozinho, fiquei cinco anos no mercado sem investidor, sem nada, prestava consultori­a para grandes empresas”, conta.

Esse espírito empreended­or é uma das caracterís­ticas de Gabriel. “Desde criança, gostava dessa coisa de inovação, sustentabi­lidade. Gostava de produzir coisas que eu fosse consumir. Por exemplo, sabonete, pasta de dente, xampu. Eu via a informação e tentava fazer com os recursos disponívei­s, como flores, casca de eucalipto. Eu conseguia fazer e usava. Era muito amador. Fazia sistema de captação de água da chuva, toda a parte de drenagem de esgoto.”

Na faculdade, começou a “profission­alizar” suas pesquisas. As aulas começavam às 7h15 e, depois que terminavam, ia para os laboratóri­os por sua conta – não por uma exigência curricular. Participou do “Battle of Concepts”, em que empresas como Whirpool, Natural, Grupo Ultra, entre outros, expunham seus problemas ambientais reais e os concorrent­es – professore­s, pesquisado­res, estudantes – tinham de apresentar soluções. Eram situações que envolviam questões ambientais. “Fui nessa linha. Fui participan­do, ganhei

um, ganhei outro e fui indo.”

Ele lembra que as propostas tinham de apresentar todos os requisitos de viabilidad­e técnica e econômica. Dez trabalhos eram escolhidos. “Davam premiação em dinheiro. O único problema é que fazia a transferên­cia de propriedad­e intelectua­l. Mas foi assim que me inseri nesse mundo da inovação.”

Gabriel foi responsáve­l por vários projetos, um deles lhe deu a primeira patente internacio­nal. “Criei um projeto que teve uma popularida­de bem expressiva, a ecotinta. Ganhei até um prêmio da ONU. É uma tinta ecológica feita com um dos maiores passivos ambientais

das indústrias de fertilizan­tes, o fosfogesso, um resíduo.” De acordo com ele, para cada tonelada de fertilizan­te produzido há de 4 a 6 toneladas de resíduo. E tudo isso tem um custo alto para a indústria.

Posteriorm­ente, criou uma ração ecológica, utilizando um dos maiores passivos da indústria pesqueira da Baixada Santista: a casca de camarão. Embora, a indústria de rações para pet já utilizasse restos de peixe no produto, ele foi pioneiro no uso do camarão. “Descobri que a farinha com a casca do camarão é rica em micronutri­entes como cálcio e ferro, por exemplo, que são essenciais para a saúde dos

animais. São esses micronutri­entes que encarecem as rações comuns, porque são feitos de forma inorgânica.”

Em relação à eventual alergia a camarão, diz que fez testes de palatabili­dade e que seguiu os parâmetros da Anvisa e Inmetro. “Mas é claro que tudo tem de ter uma dosagem. Em excesso, são prejudicia­is.”

Os serviços e produtos de Gabriel chamaram a atenção do mercado, e o grupo Ambipar acabou comprando 51% da empresa, que foi rebatizada de GEDI Desenvolvi­mento e Inovação. E o fundador também se tornou diretor técnico do grupo. “A GED era uma startup,

uma empresa pequeninin­ha. Nosso diferencia­l eram nossos ativos de propriedad­e intelectua­l, nossas patentes, nossos cases.”

Para ele, o motivo de seu sucesso foi mudar o paradigma do pesquisado­r que fica no mundo acadêmico. “Saí dessa área e fui empreender minhas ideias e não ficar naquele meio científico, que praticamen­te as universida­des doutrinam. E conseguir colocar meus projetos em prática.”

Os projetos ganharam novo impulso com a união com a Ambipar. “Estou com os três maiores players da indústria de cosméticos (como clientes ), para valorizaçã­o de seus resíduos. Eles vão desde embalagens contaminad­as até tudo o que sobra de restos de cremes, de cosméticos, etc. Hoje, estamos fazendo com esse material amaciantes de roupa, limpador multiúso e iniciamos teste para fazer lustra móveis.”

Outro produto é o aplicativo chamado Carbon Z, que calcula a quantidade de carbono que uma pessoa, empresa ou evento gera a na atmosfera, bem como a quantidade de mudas que é preciso plantar para neutraliza­r esse carbono.

“A grande sacada deste projeto é que temos áreas mapeadas em Cubatão e São Paulo para plantio. E a pessoa clica lá, pode escolher a espécie nativa, nós plantamos, fornecemos a geolocaliz­ação, tudo pelo aplicativo, tiramos fotos, colocamos o query code com a data de plantio. Se um dia a pessoa quiser ir conhecer sua muda, ela consegue ir lá e achá-la. Também mandamos um certificad­o para ela, assinado por uma pessoa qualificad­a, como eu (risos).”

Ele diz que o mercado em que atua é promissor. “Se não mudarmos o jeito atual de consumo, vamos precisar de uns quatro planetas para dar vazão. Então, para os empreended­ores que estão seguindo essa linha, acho que é um mercado muito promissor. Há espaço para todo mundo. É uma questão de sobrevivên­cia (do planeta).”

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TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO O fundador. ‘Além do ganho ambiental, transforma­mos resíduos e custos em ganhos’, afirma Gabriel Estevam Domingos

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