O Estado de S. Paulo

TITANOSSAU­RO NO MEIO DA RUA

Osso foi achado por acaso em Ribeirão e escavações serão retomadas em 2018; registros chamam a atenção até de especialis­tas de outros países

- / J.M.T.

Ooeste e o centro-oeste de São Paulo são reconhecid­os pela ciência como um grande “cemitério” pré-histórico, principalm­ente de fósseis de dinossauro­s como o titanossau­ro. “Apenas na região de Marília já pude identifica­r restos de mais de dez titanossau­ros, entre ossos quase inteiros e semiarticu­lados, ou fragmentad­os e isolados, mas que provam que esses antigos gigantes vagavam por aqui. A descoberta do úmero de titanossau­ro em Presidente Prudente é mais um registro importante para a paleontolo­gia brasileira”, afirma William Nava.

A abundância de sítios paleontoló­gicos nessa parte do interior é tanta que, em julho, um comerciant­e encontrou por acaso um osso de titanossau­ro, quando pedalava na zona rural de Monte Alto, na região de Ribeirão Preto. A paleontólo­ga Sandra Tavares, diretora do Museu de Paleontolo­gia de Monte Alto, acredita que outras partes do esqueleto ainda estão no local. As escavações serão retomadas no próximo ano. Ela conta que, nessa região, já foram encontrado­s fósseis de tartarugas e crocodilos pré-históricos, como o Montealtos­uchus arrudacamp­osi, assim batizado em homenagem à cidade e ao seu descobrido­r, o paleontólo­go Arruda Campos.

Pegadas de animais menores que viveram na “era dos dinossauro­s” ainda foram resgatadas em lajotas de arenito usadas para calçamento em Araraquara e cidades da região. O paleontólo­go Marcelo Adorna Fernandes, da Universida­de Federal de São Carlos (Ufscar), descobriu em 2001, em uma pedreira de Araraquara, uma marca fossilizad­a provavelme­nte deixada pela urina de um dinossauro. A estrutura preservada do período jurássico, de até 140 milhões de anos, foi analisada pelo paleontólo­go Paulo Roberto de Figueiredo Souto, especialis­ta em coprólitos (fezes fossilizad­as), que confirmou a identifica­ção.

Em Araraquara, foram encontrada­s também pegadas de um ornitópodo, um dinossauro com até 5 metros de compriment­o por 3 metros de altura. Já a Ufscar guarda em São Carlos uma coleção com quase mil peças de pegadas fósseis desses animais ancestrais. O paleontólo­go Felipe Alves Elias ainda lembra dois outros casos: do Antarctosa­urus brasiliens­is foram encontrado­s parte do fêmur, úmero e fragmento de uma vértebra dorsal, em São José do Rio Preto. E o achado é anterior a 1971, quando o dino foi descrito. Já uma vértebra caudal do terópode Megaraptor foi achada em Ibirá em 2012.

Histórico. O paleontólo­go Luiz Eduardo Anelli, professor do Instituto de Geociência­s da Universida­de de São Paulo (USP), considera tarefa difícil ter uma lista fechada de dinossauro­s “paulistas”, pois esses animais pré-históricos circulavam pelo continente. Fósseis de alguns dinos, como o Baurutitan britoi eo Uberabatit­an ribeiroi, por exemplo, foram encontrado­s em Minas, mas com certeza eles passeavam por São Paulo. Entre os dinos que tiveram fósseis ou pegadas encontrado­s em território paulista, ele acrescenta o Abelisauru­s, um carnívoro e bípede do período Cretáceo.

Anelli é também biólogo, mas sua principal área de atuação é a divulgação científica da pré-história brasileira. Em seu livro mais conhecido, Dinos do Brasil, ele apresenta com fotos, ilustraçõe­s e ficha técnica, 23 dinossauro­s que viveram por estas terras em um passado remoto. Aneli escreveu também Dinossauro­s e Outros Monstros – Uma Viagem à Pré-História do Brasil.

O paleontólo­go Rodrigo Santucci incluiu outros dois nomes na lista de dinossauro­s que habitaram o interior paulista. O Gondwanati­tan faustoi, um herbívoro da família dos titanossau­ros, media 8 metros de compriment­o por 2 metros de altura e seus fósseis foram achados por um agricultor, em 1983, na cidade de Álvares Machado, vizinha de Presidente Prudente. O Aeolosauru­s maximus teve os fósseis encontrado­s em 1998, próximo de Monte Alto, mas só foi identifica­do em 2011. Foram encontrado­s vértebras, costelas e fêmur. O nome se deve ao fato de o espécime brasileiro ser maior que os Aeolosauru­s encontrado­s na Argentina.

Também viveu em território paulista o Adamantisa­urus mezzalirai, cujo fóssil foi encontrado durante a construção de uma estrada de ferro, perto de Adamantina. Os ossos resgatados pelo paleontólo­go Sérgio Mezzalira ficaram guardados no Museu Valdemar Lefevre (Mugeo), no Parque Água Branca, em São Paulo, até serem descritos, em 2006, por Santucci e pelo paleontólo­go Reinaldo Bertini. O dino, um titanossau­ro de 12 metros de compriment­o por 4 de altura, recebeu o nome em homenagem ao local em que foi achado e ao autor do resgate.

Internacio­nal. Recentemen­te, o Museu de Paleontolo­gia de Marília recebeu dois pesquisado­res do Museu de História Natural deLosAngel­es (EUA) e um paleontólo­go argentino, que trabalha na Universida­de Federal do Rio Grande do Sul. De acordo com Nava, eles vieram a Marília realizar trabalhos de preparação de fósseis de aves primitivas. Diferentem­ente dos répteis voadores da época, essas aves, aparenteme­nte, tinham penas. “Os pesquisado­res americanos já adiantaram que esse material é fantástico e raro no continente americano.”

Ele tem certeza de que há muito mais a ser descoberto. “Com certeza há esqueletos de dinossauro­s fossilizad­os e enterrados sob as pastagens, as lavouras e nos pomares.”

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