O Estado de S. Paulo

É caro e difícil sair do País e manter investimen­to por aqui

Por causa da burocracia envolvida e das taxas cobradas, opção só vale para quem tem mais de R$ 3 milhões

- Jéssica Alves

A crise econômica tem motivado brasileiro­s a buscar oportunida­des em outros países. Diante dos juros ainda altos praticados no Brasil, manter os investimen­tos por aqui seria uma opção lógica. No entanto, questões legais, burocracia e taxas envolvidas inviabiliz­am tal estratégia. Segundo especialis­tas, essa opção só é válida para quem tem mais de R$ 3 milhões na carteira de investimen­tos.

O número de brasileiro­s que foi morar fora este ano já ultrapasso­u o total do ano passado. Segundo a Receita Federal, até outubro deste ano 21.236 pessoas fizeram a Declaraçõe­s de Saída Definitiva, documento que libera o contribuin­te das obrigações com o Fisco. Em 2016, 20.493 entregaram o mesmo documento.

No período da crise econômica, a comparação é mais alarmante. De 2014 a 2016, foram entregues 55.402 declaraçõe­s de saída, cresciment­o de 81,61% ante os três anos anteriores. De 2011 a 2013, 30.506 pessoas partiram oficialmen­te do País. E a diferença pode ser ainda é maior, pois muitos simplesmen­te deixam de comunicar à Receita que estão indo morar em outro país.

Além da Receita, caso o emigrante queira manter seus investimen­tos aqui, ele precisa informar o banco ou a corretora de valores para que a instituiçã­o possa se tornar seu representa­nte legal e custodiant­e. A exigência é parte da resolução 4.373, do Banco Central.

“Isso demanda uma minúcia gigantesca na manipulaçã­o de documentos, que tem seu preço. O investidor pode encontrar taxas de R$ 4 mil a R$ 6 mil ao mês no mercado”, diz Marcelo Godke, sócio do Godke Silva & Rocha Advogados.

Fazendo uma conta aproximada, se o investidor tem um patrimônio de R$ 1 milhão, serão 6% ao ano só para os custos de manutenção. Com a taxa Selic (referência para investimen­tos em renda fixa) no patamar de 7% ao ano, o retorno obtido com a aplicação será quase todo destinado a pagar a conta. Portanto, essa opção passa a ser mais vantajosa a partir de R$ 3 milhões. A vantagem nesse caso é a isenção de Imposto de Renda para operar na Bolsa e em títulos públicos.

O especialis­ta em direito bancário ainda aconselha o investidor a reservar um tempo para trâmites burocrátic­os, que podem levar até três meses.

Outra opção é abrir uma conta de não residente em um banco do País. Nesse caso, o investidor pode ficar preso ao cardápio de aplicações dos bancos, que tende a ser menos vantajoso. Outra desvantage­m é que esse tipo de conta requer monitorame­nto redobrado e créditos e débitos acima de R$ 10 mil devem ser declarados à Receita, o que gera mais custos.

Pela complexida­de, essa opção geralmente é restrita a clientes que possuem renda acima de R$ 1 milhão, explica Roberto Justo, sócio do escritório Choaib, Paiva & Justo.

Ele também explica que, devido à tributação do país de destino e à queda de juros no Brasil, que onera sobretudo os investimen­tos mais populares e conservado­res, como Tesouro e fundos de renda fixa, diante dos custos e da complexida­de, muitos clientes acabam preferindo liquidar suas aplicações por aqui.

No exterior. Segundos dados do BC, os brasileiro­s investiram cerca de US$ 8,9 bilhões em ativos de outros países entre janeiro e setembro de 2017. A principal motivação para as aplicações está a diversific­ação da carteira.

Para Daniel Pettine, gestor de Fundos e Produtos da Rio Bravo Investimen­tos, a opção é interessan­te sobretudo nos dias de hoje, próximo das eleições, por causa da volatilida­de que ocorre no mercado. “Por exemplo, os ativos no exterior não sofreram o impacto da gravação de Joesley Batista”, conta.

Outro chamariz é a tendência de alta nos juros, sobretudo nos Estados Unidos, e ao viés de queda dos juros por aqui. Mesmo que os juros brasileiro­s continuem altos, com essa inversão os investimen­tos lá fora passam a ficar mais vantajosos porque não passam por turbulênci­as.

Entre os principais produtos internacio­nais estão fundos, títulos de empresas brasileira­s no exterior, títulos do governo e ETFs (Exchange Traded Funds, na sigla em inglês), fundos que replicam índices de ações. Outra opção é buscar fundos que investem em ativos estrangeir­os e geridos por brasileiro­s.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil