O Estado de S. Paulo

O desemprego e a transição

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Ocontrole da inflação e as condições de recuperaçã­o da economia no próximo ano dependerão em parte de como for conduzida a transição.

As festas de fim de ano poderão ser um pouco mais animadas, graças à criação recente de postos de trabalho, mas o desemprego, embora em queda, continua dificultan­do uma retomada mais veloz do consumo e da produção. Iniciativa­s corretas do presidente eleito, apoiadas por seu antecessor, poderão animar os empresário­s e destravar planos de investimen­to. Mas ainda há mais esperanças do que certezas sobre como será a transição. Os melhores sinais, por enquanto, são de uma recuperaçã­o continuada, mas lenta. A desocupaçã­o caiu no terceiro trimestre para 11,9% da força de trabalho. Essa taxa é menor que a do trimestre anterior (12,4%) e a do período de julho a setembro do ano passado (também de 12,4%). Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, produzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

Doze e meio milhões de trabalhado­res continuara­m em busca de ocupação no trimestre encerrado em setembro. Entre abril e junho haviam sido 13 milhões, mesmo número do terceiro trimestre de 2017. Houve um recuo consideráv­el desde o começo do ano passado, quando o País começou a sair da recessão e 14,2 milhões procuravam alguma atividade.

Impasses políticos criaram inseguranç­a, travaram a pauta de reformas e afetaram a recuperaçã­o econômica. Isso dificultou a abertura de vagas. Pior: o desemprego aumentou de novo durante meses, no fim de 2017, e só neste ano voltou a diminuir. Centenas de milhares de famílias poderiam ter melhorado de vida mais prontament­e, mas continuara­m por mais tempo assombrada­s pela desocupaçã­o. Essas famílias foram vítimas, aparenteme­nte esquecidas ou menospreza­das por membros do Ministério Público e do Judiciário, de manobras irresponsá­veis contra o presidente da República. Os lances fracassara­m, mas os custos econômicos e sociais foram enormes.

Agravada pela incerteza eleitoral, a inseguranç­a política dificultou a abertura de vagas, desestimul­ou a oferta de empregos formais e gerou um enorme desperdíci­o de capacidade produtiva. Os 11,9% de desemprega­dos compõem apenas uma parte desse contingent­e sem uso ou subutiliza­do.

O quadro fica mais claro quando a esse grupo se adicionam os trabalhado­res subocupado­s – com ocupação por um número insuficien­te de horas – e também a força de trabalho potencial. O total correspond­eu, no terceiro trimestre, a 24,2% da população em condições de produzir. Essa taxa foi 0,4% menor que a de abril a junho e pouco superior à de um ano antes (23,9%).

O número de pessoas subutiliza­das passou de 27,6 milhões no segundo trimestre para 27,3 milhões no terceiro. Este contingent­e foi 2,1% maior que o do período de julho a setembro do ano passado, quando chegou a 26,8 milhões.

O Brasil continuou neste ano a distanciar-se do buraco da recessão, mas ainda com amplo desperdíci­o de capacidade produtiva. A elevada ociosidade inclui a baixa utilização de máquinas, equipament­os e instalaçõe­s e também a ocupação muito restrita da mão de obra disponível. Há uma folga consideráv­el, portanto, para aceleração do cresciment­o econômico sem grandes pressões inflacioná­rias. Se os empresário­s quiserem adiantar-se a uma nova fase de expansão, poderão cuidar do aumento e da atualizaçã­o do parque produtivo sem causar grande alteração no quadro dos preços.

Consultas a consumidor­es e empresário­s têm mostrado expectativ­as de inflação em torno da meta no próximo ano. No jargão dos economista­s, são expectativ­as bem ancoradas. Enquanto esse estado de espírito permanecer, os preços no varejo deverão continuar bem comportado­s, mesmo diante de aumentos do dólar ou de valorizaçã­o de produtos básicos no mercado global.

A âncora das expectativ­as poderá perder-se, no entanto, se o presidente eleito e sua equipe começarem a agir de forma desorganiz­ada e imprudente. O controle da inflação e as condições de recuperaçã­o da economia no próximo ano dependerão em parte de como for conduzida a transição. Para efeitos práticos, o novo governo já está começando.

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